Não, porque o ponto do etc. vale sempre por dois, quer seja no fim dum período quer não. Mas aceita qualquer outro sinal de pontuação, sempre que necessário e/ou for mais adequado: uma vírgula, dois pontos, um ponto de exclamação ou de interrogação, um travessão. Já diferente (e mais controverso) é a utilização da vírgula antes do etc. É o que veremos adiante.
Etc., como se sabe, é a abreviatura da locução latina et cetera – estamos a responder também ao consulente Pedro Martins –, também grafada et caetera, que se pronuncia /ed cetera/. Etimologicamente, quer dizer «e mais coisas» ou «e outras coisas». Também pode significar «e o resto», «e assim por diante», «e outros da mesma espécie». Ou, ainda, «e o resto», «e assim por diante».
Alguns gramáticos, como o brasileiro Napoleão Mendes de Almeida, criticam o recurso indiscriminado à vírgula nas frases finalizadas com o etc.
«Se antes da conjunção e só se emprega vírgula quando o e não está a ligar os dois termos imediatamente contíguos ("Ele disse isso, e outras coisas poderia ter dito"), não cabe tampouco o emprego de vírgula nem de e antes de etc. Não há sentido em "…peras, maçãs e etc." nem em "…peras, maçãs, etc."» [in Dicionário de Questões Vernáculas, Livraria Ciência e Tecnologia Editora, São Paulo Brasil]
Ouvido a este propósito, o dr. José Neves Henriques é bem menos taxativo: «O lógico seria, de facto, não pôr vírgula antes de etc., mas a linguagem nem sempre obedece à lógica. Não raro, prevalece a sensibilidade, a ênfase, o que pensamos ou não pensamos de uma determinada palavra ou expressões." É o caso do etc.: «Quando escrevemos, não temos a noção de que em etc. está incluída a conjunção latina que em português significa e. Geralmente, nem a têm as pessoas que sabem latim.»
O próprio Rebelo Gonçalves - como lembra ainda o nosso prezado colaborador -, muito sabedor e cuidadoso, empregava a vírgula antes de etc., como se pode ler na pág. 243 do Tratado de Ortografia: «…(v. Pedro A. Pinto, Os Sertões de Euclides da Cunha, pág. 270), etc.»