DÚVIDAS

«Nada de especial»

Encontrei as expressões «nada de especial» e «o que de mais importante», cuja estrutura não entendo bem. É do uso comum a estrutura um substantivo + de + um adjetivo? Pensava que deveriam ser «nada especial» ou «nada de importância», e a outra, «o que de mais importância».

Resposta

As expressões apresentadas pela consulente ocorrem com pronomes indefinidos (incluindo a expressão «alguma coisa») e a construção relativa «o que», e não há nada que conteste a construção das mesmas. Semanticamente, «nada de especial» significa que estamos perante alguma coisa ou situação que não tem muita importância («… é apenas um teledisco nova-iorquino, com três minutos de duração e nada de especial a assinalar» – Corpus do Português, in Público, 1998) ou não é muito boa («o bolo não é nada de especial»). Já a expressão «o que de mais importante» salienta uma característica com relevo e importância («Talvez por isso, o que de mais importante a coletividade possui é esse sentido de apoio interior» – Corpus do Português, in Público, 1994).

Evanildo Bechara refere-se a esta construção na sua Moderna Gramática da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, Lucerna Editora, 2002, págs. 551), salientando o caso de «alguma coisa de bom», como expressão equivalente a «alguma coisa boa», mas com diferente comportamento sintático:

«Em alguma coisa de bom, o adjetivo não concorda com coisa, sendo empregado neutralmente (como algo de novo, nada de extraordinário, nada de trágico, etc.)

Por atração pode fazer-se a concordância do adjetivo com o termo determinado que funciona como sujeito da oração:

"Que tinha pois, Ricardina, de sedutora!" [Camilo Castelo Branco]

"Amor próprio do vilão: que a infâmia nada tinha de engenhosa" [idem]

[...]

A vida nada tem de trágica

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