Nas fontes de que dispomos não se regista a palavra "boleiante", nem se atribui a "boleeiro" a aceção de «(pessoa) que anda à boleia».1 Trata-se, portanto, de um neologismo – discutível, certamente, porque pressupõe bolear numa aceção («andar à boleia») que também não se encontra nos dicionários consultados nem parece estar enraizada no uso corrente. No entanto, mesmo aceitando que bolear é a forma pressuposta, a palavra deveria ter a forma "boleante", de acordo com o modelo facultado pela correspondência entre passear (um verbo terminado em -ear como bolear) e passeante. A menos que, à revelia de todos os critérios de boa formação de palavras, crie o verbo "boleiar" (como parece ter já criado), muito embora a consulta de qualquer dicionário mostre a raridade de verbos com essa terminação no infinitivo (o Houaiss regista somente enseiar, «formar seio em», e veiar, «tornar visíveis veias ou quaisquer vasos sanguíneos de» e «formar veios», que parecem limitar-se ao português do Brasil). Em suma, tendo apenas em conta a palavra boleia, é difícil identificar uma forma que a priori, isto é, antes de ter efetivo uso, se apresente como correta. Talvez o uso de "boleiar" e "boleiante" que o consulente possa eventualmente fazer nos seus textos alcance popularidade, apesar de poder indignar gramáticos mais ciosos das regras do português; seria uma situação curiosa, porque teríamos assim um neologismo com origem bem identificada.
Poderíamos sugerir-lhe outras denominações, mas, neste momento, só nos ocorrem perífrases, sempre palavrosas: «viajante à boleia». A não ser que se proponha a criação do composto «vai à/de boleia» ou «anda à/de boleia» («a estrada estava cheia de "vai/anda à boleia"». Pode também converter boleia num substantivo dos dois géneros («o boleia»/«a boleia» = «pessoa que anda à boleia»): «na estrada, vi dois boleias, que levei até à aldeia mais próxima».
1 No português do Brasil, além de caroneiro, «aquele que pega carona» (ou seja, «aquele que anda à boleia»), regista-se também um uso mais específico de carona (geralmente o mesmo que boleia), nas aceções de «pessoa que, por qualquer meio, viaja sem pagar passagem num veículo», «pessoa que consegue penetrar, sorrateiramente ou não, em lugares de ingresso pago ou para os quais não foi convidada» e, até, «pessoa caloteira» (Dicionário Houaiss). Quanto a mochileiro, o Dicionário Houaiss (1.ª edição brasileira, de 2001) atribui a este vocábulo o significado de «indivíduo, ger. jovem, que viaja com poucos recursos e pouca bagagem, freq. pegando caronas, hospedando-se em albergues etc.». O seu uso parece estar documentado em textos brasileiros, pelo menos, desde a década de 70 do século passado. Em Portugal, o termo não é desconhecido, mas deve ter sido introduzido mais recentemente (agradeço ao consultor Luciano Eduardo de Oliveira as observações que motivaram a elaboração desta nota).