Há, de facto, regras para o emprego do artigo nos nomes próprios, classe onde se inserem os topónimos, embora os falantes tenham vindo a introduzir as formas que consideram mais adequadas sempre que se referem a continentes, a países, a cidades e a qualquer localidade.
Cunha e Cintra, na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Sá da Costa, 2002, pp. 225), esclarecem-nos sobre o uso do artigo com os nomes próprios:
«Sendo por definição individualizante, o nome próprio deveria dispensar o artigo. Mas, no curso da história da língua, razões diversas concorreram para que esta norma lógica nem sempre fosse observada e, hoje, há mesmo grande número de nomes próprios que exigem obrigatoriamente o acompanhamento do artigo definido. Entre essas razões, devem ser mencionadas:
«a) a intenção de reforçar a ideia de individualidade, de um todo intimamente unido, como se concebe, em geral, um país, um continente, um oceano: o Brasil, a França, a Itália, a América, a África, a Europa, o Atlântico, o Índico, o Pacífico;
«b) a de ser o nome próprio originariamente um substantivo/nome comum, construído com o artigo: a Guarda (do nome comum guarda; o Porto (do substantivo comum porto).»
Assim, relativamente aos nomes geográficos, estes gramáticos indicam-nos os casos de emprego do artigo definido, assim como os de não-ocorrência do determinante:
«1.º Emprega-se normalmente o artigo definido com os nomes dos países, regiões, continentes, montanhas, vulcões, desertos, constelações, rios, lagos, oceanos, mares e grupos de ilhas: o Brasil, a França, os Estados Unidos, a Guiné, a África, o Himalaia, os Alpes, o Saara, o Nilo, o Atlântico, o Mediterrâneo, os Açores.»(idem, p. 228).
No entanto, alertam-nos, também, para vários casos de exceção:
«1.ª Certos nomes de países e regiões costumam, no entanto, rejeitar o artigo. Entre outros: Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Macau, Timor, Andorra, Israel, São Salvador, Aragão, Castela, Leão.
2.ª Alguns nomes de países, como Espanha, França, Inglaterra, Itália e poucos mais, podem construir-se sem artigo, principalmente regidos de preposição:
Viveu muito tempo em Espanha, casada. (Fernando Namora, CS, 93)
Pelas estradas líricas de França. (Joaquim Cardoso, SE, 49) […]
Excetuam-se:
1.ª Alguns nomes de cidades que se formaram de substantivos comuns [que] conservam o artigo: a Guarda, o Porto, o Rio de Janeiro, a Figueira da Foz.
2.ª À semelhança dos nomes do países, usam-se com artigo alguns nomes de ilhas: a Córsega, a Madeira, a Sardenha, os Açores» (idem, pp. 229-230).
Tendo como referência estes dados, verificamos que, se usarmos a regra geral, para os países emprega-se o artigo definido. Assim, como não é um nome terminado em -a (geralmente, feminino), mas em -e mudo, Chipre é um nome masculino. Escreve-se «Chipre», sem artigo definido, conforme se encontra se encontra registado nos dicionários de referência: «referente a Chipre», «natural ou habitante de Chipre» (Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, disponível na Infopédia; cf. também Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e Dicionário Houaiss).»1
Relativamente aos topónimos portugueses Almada e a Corroios, basta seguir a regra:
Não há substantivos/nomes comuns com a mesma designação de Almada e de Corroios. Por isso, com estes topónimos não se emprega o artigo definido, usando-se somente a preposição: «Ele vive em Almada»; «Ela frequenta uma escola de Almada»; «Tu nunca foste a Almada»; «Tu não conheces Corroios», «Ela foi a Corroios», «Ele trabalha em Corroios».
Por sua vez, se se tratasse de uma outra localidade da mesma zona, Seixal, a situação é diferente, porque existe o substantivo comum seixal (de seixo + -al), «nome masculino, lugar onde abundam seixos ou cascalho» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, ob. cit.). Portanto, emprega-se o artigo: «Tu viste o Seixal», «Ela trabalha no Seixal», «Tu foste ao Seixal», «Eu vim do Seixal».
1 Embora se ateste o uso de artigo definido com Chipre («o natural do Chipre», «a ilha do Chipre») no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, publicado em 2010 pela Porto Editora, o confronto com outros dicionários sugere que terá havido um lapso do lexicógrafo. Esta impressão sai reforçada, quando se encontra noutra definição do referido dicionário, uma ocorrência de Chipre sem artigo definido, já de acordo com o padrão de uso atestado noutras fontes.