De facto, a regra geral para os casos de frases com mais de um sujeito (sujeito composto) evidencia que «o verbo vai para o plural e, quanto à pessoa, [...] irá para a 3.ª pessoa do plural, se os sujeitos forem da 3.ª pessoa» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002, pp. 494-495). Ora, tendo como referência a regra geral, a frase apresentada pelo consulente – «A libertinagem e a devassidão corrompeu Roma» – não está correta, porque viola a regra da concordância.
No entanto, se prestarmos atenção aos casos particulares de frases com mais de um sujeito, apercebemo-nos de que há situações em que o verbo pode ocorrer no singular, concordando com o sujeito mais próximo. Destacam-se os seguintes casos, indicados por Cunha e Cintra (op. cit., pp. 505-506):
a) quando os sujeitos vêm depois do verbo («Habita-me o espaço e a desolação»);
b) quando os sujeitos são sinónimos ou quase sinónimos («A conciliação, a harmonia entre uns e outros é possível»; «O amor e a admiração nas crianças compraz-se dos extremos»);
c) quando há uma enumeração gradativa («A mesma coisa, o mesmo acto, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos»);
d) quando os sujeitos são interpretados como se constituíssem em conjunto uma qualidade, uma atitude («A grandeza e a significação das coisas resulta do grau de transcendência que encerram»; «Morro se a graça e a misericórdia de Deus me não acode»).
Confrontados com estes casos particulares, e apesar de não nos esquecermos da situação de desvio (da regra geral) da frase apresentada pelo consulente, apercebemo-nos de que se pode enquadrar em dois destes casos particulares: b), o da sinonímia dos sujeitos (A libertinagem e a devassidão enquadram-so nos campos semânticos do excesso, do prazer), e d), porque podem ser interpretados como se constituíssem em conjunto um vício/mal, uma atitude.
De qualquer modo, consideramos que se deve usar a regra geral para os casos do sujeito composto, o que implica que fique da seguinte forma:
«A libertinagem e a devassidão corromperam Roma.»