Formalmente, a frase não é aceitável, e não se recomenda a expressão «actividades prestadas (a)», sendo preferível substituí-la por «actividades destinadas (a)» ou «actividades dirigidas (a)» Com o particípio prestado é mais adequado empregar palavras como serviço (ou serviços), auxílio, apoio e ajuda.
A fraca ou nula aceitabilidade de «actividades prestadas» deve-se a restrições que operam em dois níveis de análise estreitamente ligados, semântico e lexical, como a seguir se explica com mais pormenor.
1. Nível semântico
A incompatibilidade de prestadas, particípio passado de prestar, com actividades é interpretável no âmbito da especificação das propriedades semânticas dos argumentos do referido verbo, cujo objecto (sintacticamente, o complemento directo) tem por núcleo um substantivo abstracto que designa o propósito ou a finalidade da acção do sujeito, visando um beneficiário: diz-se «auxílio prestado» ou «prestar auxílio», «apoio prestado» ou «prestar apoio», «ajuda prestada» ou «prestar ajuda», porque serviço, apoio, ajuda pressupõem um sujeito que age em benefício de outrem.
Por outro lado, actividades, no plural, ganha uma ideia de concretude, afastando-se do sentido abstracto do seu singular, ao mesmo tempo que veicula uma ideia de acção, que se não coaduna com a especificação semântica do objecto de prestar, mesmo que este ocorra como adjectivo participial (o ? indica aceitabilidade duvidosa):
Em 1, assinala-se a dificuldade em associar prestar com substantivos ou expressões que concretizem a natureza do serviço prestado ou da ajuda prestada. Para dar outro exemplo, se, em vez de actividades, o tópico de discurso envolver os serviços de táxi, que consistem sobretudo em viagens ou corridas de táxi, verificamos restrições como acontece anteriormente em 1:
3 OK «Não foi referido o serviço de táxi prestado ao cliente.»
Comparando 2 com 3, observa-se que as restrições sobre «corrida de táxi prestada» não se registam no caso de «serviço (de táxi) prestado». É ainda de ter em conta que o objecto de prestar se comporta semanticamente como um tema típico, passivo, ainda que pressupondo actividade. O mesmo não se verifica com a palavra actividade ou com «viagem/corrida de táxi», que não contêm em si essa ideia de passividade, visto remeterem de imediato para um processo.
No entanto, em semântica, há sempre zonas de intersecção e fluidez, susceptíveis de explicar casos como o da expressão «actividades prestadas». Por outras palavras, o contexto e a economia da comunicação permitem por vezes esta aceitação de «grupos» estranhos em abstracto. Se se trata de uma associação que presta serviços associados, por exemplo, ao desenvolvimento socioeducativo, ela vai «desenvolver» (aqui está o processo...) actividades, que se constituem como os serviços prestados. Sendo a organização ou a concretização das actividades esse mesmo serviço, então, poderão pensar alguns falantes, «presta-se a organização das actividades» ou, para atalhar, «prestam-se actividades».
2. Nível lexical
Não são só as palavras e as expressões idiomáticas que se fixam no léxico. Também existem certas associações de palavras com um carácter fixo ou quase fixo (são as chamadas colocações, do inglês collocation, termo muito usado na lexicografia britânica), pelo que é de esperar «serviços prestados», mas não «actividades prestadas».
Além disso, é preciso não esquecer a sinonímia de prestar com dar1, enquanto verbo-suporte, isto é, como verbo que forma com o seu complemento uma unidade lexical e semântica, por sua vez equivalente a um verbo simples; p. ex.:
Prestar/ dar ajuda: ajudar
Prestar/ dar esclarecimento( s): esclarecer
Prestar/ dar actividades: ?
Sucede que não encontramos verbo equivalente a «prestar actividades», o que reforça os argumentos expendidos sobre a fraca ou nula aceitabilidade desta expressão.
1 Nos contextos apresentados, pode haver contraste entre os sinónimos, quanto ao grau de formalidade, sendo prestar caracterizado como mais formal do que dar.