Não existe termo especial para essa criação morfológica, mas Vasco Botelho do Amaral, no seu Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português (1956), falava em reforço, neste caso, de sufixos diminutivos ou aumentativos.1 Trata-se de uma sequência possível de sufixos modificadores, frequente na formação de diminutivos e aumentativos, bem como na sua associação a adjectivos como processo de intensificação. Há algumas sequências que são habituais; por exemplo, de pequerrucho, forma-se pequerruchinho; do mesmo modo se forma pequenininho de pequenino. Mas é possível criar pontualmente outras, sobretudo num registo afectivo e infantil: "tartaruguinhazinha",2 "o monstro comilãozão", etc. E também se aceitam sequências de sufixo de aumentativo e sufixo de diminutivo: "comilãozinho".3
1 Vasco Botelho do Amaral (op. cit.) comentava assim casos de reforço sufixal:
«Convém desde já observar que é possível dar-se um reforço, como se vê em toleirãozão, que traduz a insatisfação aumentativa perante um toleirão» (pág. 409).
«Por vezes, sente-se necessidade em reforçar formalmente a ideia diminutiva. Por exemplo, não contentes com pequerrucho, engendramos pequerruchinho. E, à sua conta, a palavra que por excelência indica pequenez, justamente, pequeno, tem nada menos que estas intensidades diminuidoras — pequenino, pequenininho; pequenicho, pequenichinho; pequenito, pequenitinho, e até pequenico, pequeniquinho.
No Glossário de Dificuldades registei ainda este facto: "as pessoas às vezes não contentes com a diminuição expressiva de pequenininho ainda com as pontas dos dedos ou com as unhas completam a imagem de pequenez. E podia lembrar vários exemplos de duplicidade diminutiva como pequerruchinho, de pequerrucho, etc."
Não sei se estão a reparar numa realidade psicológica: quanto mais se quer diminuir no sentido, mais se alonga no vocábulo. Mais pequeno do que pequeno é pequenino. Mais pequeno do pequenino é pequenininho.
Pequerrucha convida-nos a levar a boca ao leito de quem afaga com palavras de carinho. E a força do sentimento é de tal ordem, que a pequerrucha passa, por vezes, a tarucha, e de novo aumenta em — taruchinha!» (pág. 1154).
2 Não confundir estas sequências com outras em que inhozinho ou inhazinha resultam do encadeamanto de uma sílaba da base de derivação com o sufixo: ninhozinho, sardinhazinha/sardinhita.
3 Botelho do Amaral (op. cit., pág. 1155) dá um exemplo deste tipo, homenzarrinhos (homenzarrão + inho):
«Ocorre-me este caso, para o qual há anos chamei a atenção dos estudiosos da Língua. Numa das suas Cartas modelares, Castilho escreveu:
"tenho tanto medo à modéstia de V. Exa. como ao orgulho de alguns homenzarrinhos da nossa terra. Eles julgam divino tudo o que lhes sai das mãos: V. Exa. pelo contrário: tudo quanto lhe sai do coração ou do espírito o julga péssimo."»