DÚVIDAS

Peremptório no Brasil e em Portugal
No texto de Carlos Reis sobre o Acordo Ortográfico: para além de Portugal afirmou-se que «Escrevemos “pronto” (e já não “prompto”), mas parece que alguns resistem em passar a escrever “perentório” em vez de “peremptório”, usando ainda aquele “p” (que ninguém pronuncia) bem à vista.» Talvez ninguém diga "peremptório" em Portugal, mas fazemo-lo no Brasil, já que lemos, de forma geral, todas as letras que a nossa ortografia prevê.
O uso de «face a»
Li, um dia destes, a gramática de Fernão Oliveira, cujo estudo introdutório era de Eugénio Coseriu, e, numas das notas ao livro, li isto: «também deste ponto de vista, João de Barros representa um retrocesso face a Oliveira, pois admite para o português os seis casos do latim.» «Face a…»: pelas respostas que eu já tive oportunidade de ler no Ciberdúvidas, «face a» não se deve usar; mas por que razão até os melhores erram? Estarão eles também já contaminados por todos os estrangeirismos que entram todos dias por Portugal adentro? Obrigado.
A expressão «boa sombra»
Na consulta do Corpus do Português [de Mark Davies e Michael J. Ferreira] encontrei a expressão «boa sombra». Não compreendo precisamente o significado da locução. Imagino que em João de Barros («Céu, Terra, Lua e Estrelas, a quem adoram e nele fazem sua boa sombra») quer dizer «proteção»; que em Gaspar Frutuoso («e do rosto de Filomesta, cheio de uma tão boa sombra»), é «graça», «bom semblante». Não entendo muito bem o significado no Auto da Festa, de Gil Vicente: «Rascão Olhai-me esta boa sombra este lírio esmaltado que vos parece senhora?». Em História da Vida do Padre S. Francisco Xavier («a mesma cor e boa sombra do rosto, as mesmas mostras mais de vida que de morte»), talvez seja também «graça». E em Menina e Moça, «hum pouco ficou como que vira cousa desacostumada, e eu que tambem assi estava, nam de medo, que a sua boa sombra logo mo nam consentio»; «Nam esteve ella muito, que parece que conhecendo tambem de mi como estava, com hua boa sombra»), e em Francisco Manuel de Melo, poderia ser «elegância», «bons modos». Peço desculpa pela extensão da pergunta e agradeço-lhes a amabilidade.
A escolha das palavras
A minha pergunta talvez seja absurda e por isso peço-vos desde já desculpa por isso. Tenho o hábito de escrever e por vezes consulto o dicionário, mas, sempre que procuro alguma palavra no dicionário fico sempre a pensar qual das que me aconselha o dicionário devo usar. Claro que (espero não estar a dizer uma asneira) muitas das vezes devemos usar aquela que nos soa melhor, que dá mais ritmo ao texto, etc., mas a minha dúvida é sempre esta: em textos que não quero que sejam ambíguos, que critério devo usar na escolha da palavra? Isto é, há palavras que têm vários significados, e muitas delas querem dizer o mesmo; por conseguinte, como posso saber qual delas é a que se refere melhor àquilo que eu quero dizer, isto é, a mais genuína, se é que me faço entender?
A utilização do termo concursal
Esclarecendo melhor, a palavra concursal aparece amiúde em Diários da República, com referência ao recrutamento de funcionários para diversos organismos. Apresenta-se, como exemplo, a abertura de um concurso para preenchimento de um lugar de técnico superior numa câmara municipal. No anúncio pode ler-se: «Procedimento concursal para provimento de um lugar de técnico superior de 2.ª classe (estagiário) – arqueologia.» Está correcta a utilização de concursal? Obrigado.
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