A primeira frase pode ser realmente interpretada como uma construção passiva, convertível numa frase activa:
1 – «Todos os movimentos são cuidadosamente calculados (por eles).»
2 – «(Eles) calculam todos os movimentos cuidadosamente.»
Na frase passiva 1, o sujeito «Todos os movimentos» torna-se o complemento directo da frase activa 2. Nestas frases, como não está presente o constituinte introduzido pela preposição por ou agente da passiva (também denominado por «sintagma por»), devemos usar o sujeito indeterminado «eles». Este constituinte da frase passiva 1 corresponde ao sujeito da frase activa 2.
A presença do auxiliar ser na frase passiva é, a par de outras características, uma marca que a distingue da activa correspondente. As formas desse verbo são combinadas com o particípio passado do verbo principal, calcular, formando a frase passiva. A forma participial calculados concorda em número e género com o sujeito. Note-se que, nas frases passivas, o verbo ser não é semiauxiliar, mas sim auxiliar, porque se considera que um verbo auxiliar é aquele que é usado «para a formação de tempos compostos [...], para a formação de frases passivas [...], ou para veicular informação temporal [...], aspectual [...] e modal [...]» (Dicionário Terminológico).1
Na segunda frase, não faz sentido falar nem em voz passiva nem em voz activa a respeito de haver, porque este verbo se usa sem sujeito quando significa «existir». Contudo, a substituição do constituinte «bons cristãos e malvados palestinianos» pelo pronome átono -los não está incorrecta: a expressão nominal desempenha a função de complemento directo e, como tal, pode ser substituída pela forma do pronome átono em apreço.
1 Os semiauxiliares são «verbos esvaziados de significado lexical, sem grelha argumental, que não respondem afirmativamente a todos os critérios de auxiliaridade» (Mateus et al., op. cit., pág. 315).