Como sabemos, e que é confirmado por linguistas e gramáticos, «muitos particípios verbais funcionam sintaticamente como adjetivos» (Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, p. 374), sobretudo «quando o particípio exprime apenas o estado, sem estabelecer nenhuma relação temporal, [em que] ele se confunde com o adjetivo» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 493).
No entanto, na frase apresentada, vestido constitui com o auxiliar ter um tempo composto, razão pela qual é um particípio verbal.
Repare-se que, «embora partilhem com os adjetivos (e até com os nomes) algumas propriedades, há particípios que são verdadeiras formas verbais. A prova da natureza verbal desses particípios é a possibilidade de serem acompanhados de advérbios temporais/aspetuais (i) e a impossibilidade de surgirem em posição pré-nominal (ii); quando as formas não admitem esses advérbios e quando ocupam a posição pré-nominal são adjetivos» (Mira Mateus, ob. cit., p. 375).
(i) «Tenho o casaco agora (ainda/sempre/hoje/já) vestido.»
(ii) *«Tenho o vestido casaco» (agramatical).
Nota: Ana Maria Brito, autora do capítulo da Gramática da Língua Portuguesa que se debruça sobre este tema, é peremptória na identificação do particípio passado, quando afirma: «Por outro lado, são particípios verbais as formas que com o auxiliar ter constituem os tempos compostos e com o auxiliar ser nas frases passivas» (p. 375).