Segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 645, emprega-se a vírgula «para separar as orações subordinadas adverbiais, principalmente quando antepostas à principal».
Tendo em conta que o exemplo apresentado pelo consulente integra uma oração subordinada adverbial temporal anteposta à principal – «Quando eu te encarei frente a frente» –, julgo que será ajustado colocar a vírgula antes da oração principal: «Quando eu te encarei frente a frente, não vi o seu rosto.»
Será ainda pertinente notar que no Dicionário Terminológico e na Gramática da Língua Portuguesa, de Mateus e outros, esta é uma regra sistematicamente adotada.
Já agora, se o consulente me permite, farei apenas um breve reparo relativamente ao uso concomitante dos pronomes te e seu, que me parece poder ser gerador de alguma ambiguidade semântica. Repare-se que, na ausência de um contexto mais limitativo, podemos ser levados a considerar errado o enunciado proposto, já que o uso da forma mais informal te parece não se coadunar, à primeira vista, com a eventual formalidade do pronome seu, a não ser que este último se refira à presença de uma outra pessoa. Assim, do meu ponto de vista, e tendo em conta o exposto, julgo que a frase, tal como se encontra formulada, isto é, sem um contexto mais alargado, pode apresentar os seguintes desdobramentos interpretativos:
1) «Quando eu te encarei frente a frente, não vi o seu (= teu) rosto» (sendo que, neste caso, creio que seria preferível optar por «Quando eu te encarei frente a frente não vi o teu rosto» ou «Quando eu o/a encarei frente a frente não vi o seu rosto»).
2) «Quando eu te encarei frente a frente, não vi o seu rosto [o rosto dele/a].»