A análise do novo acordo não permite tomar uma decisão unívoca face à grafia da palavra em apreço. Pelo texto do acordo, a palavra enquadra-se no ponto 1.º da base XV do novo acordo ortográfico, referente às palavras compostas. Aí se diz:
«1.º Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.»
Sendo lulo o radical de Lula (lul-) a que acresce a vogal de ligação –o (lul + o), poderemos considerar que a palavra se assemelha a outras como, por exemplo, luso-brasileiro.
No entanto, o VOLP da Academia Brasileira de Letras, tal como os dois vocabulários publicados em Portugal, regista luso-brasileiro, mas regista também lusodescendente. Qual é a diferença entre estas duas palavras? No caso de luso-brasileiro, as duas palavras estabelecem entre si uma relação sintáctica de coordenação, estando ambas as palavras ao mesmo nível (luso e brasileiro). Allina Villalva, in Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus et alli (6.ª ed., Lisboa, Caminho, 2003, págs. 971-983), fala de «composição morfológica coordenada». No caso de lusodescendente, a relação que se estabelece é uma relação de subordinação, sendo um composto morfológico subordinado: um lusodescendente é um descendente de portugueses, sendo o sintagma preposicional «de portugueses» um complemento do termo descendente, seja ele adjectivo ou nome. O primeiro elemento da composição, além de ser um radical e não uma palavra plena, modifica, ou dá informação, sobre o segundo elemento.
Olhando para alguns exemplos dos vocabulários divulgados, quer em Portugal, quer no Brasil, parece que este tipo de compostos foge ao texto do acordo ortográfico e perde o hífen. Como exemplo disso poderemos focar: lusofalante, anglofalante, etc.
Se analisarmos a palavra em apreço tendo apenas em conta o novo acordo, seremos tentados a escrever lulo-petismo. Porém, se tivermos em conta a interpretação acima descrita, que parece estar a ser seguida, então escreveremos lulopetismo, uma vez que, a meu ver, a relação entre as duas palavras se aproxima da que é estabelecida em lusodescendente.
De qualquer forma, em situações deste tipo continuará a ser o uso que determina a forma que prevalece e, pelo menos neste momento, o uso mais comum é o de lulo-petismo (22 600) ocorrências numa pesquisa Google, contra 6090 para lulopetismo.