1 – Duas notas enquadradoras:
a) De acordo com Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 584, as conjunções integrantes «servem para introduzir uma oração que funciona como SUJEITO, OBJETO DIRETO, OBJETO INDIRETO, PREDICATIVO, COMPLEMENTO NOMINAL ou APOSTO de outra oração». Acrescentam os referidos investigadores que, «quando o verbo exprime incerteza, usa-se se».
b) Maria Helena Mira Mateus e outros, Gramática da Língua Portuguesa, p. 700, deixam bem claro que «as orações subordinadas adverbiais não são argumentos do predicado principal e [têm] o estatuto de adjunto». Na mesma linha de raciocínio, o Dicionário Terminológico (DT - DOMÍNIO B.4: SINTAXE) relembra que as orações subordinadas adverbiais desempenham «a função sintáctica de modificador da frase ou do grupo verbal».
Deste modo, e tendo em conta as reflexões propostas, podemos concluir que, no enunciado «Será muito bom se você passar na prova», a partícula se é integrante, pois a oração por ela introduzida desempenha a função sintática de sujeito – «[Isso] será muito bom»; «[O facto de você passar na prova] será muito bom» – , funcionando, portanto, como argumento externo do predicado principal.
Repare-se, agora, por exemplo, na seguinte frase: «Se não estudares, não farás a cadeira em julho.» Neste caso, a partícula se é um conector condicional, sendo que a oração subordinada adverbial condicional «Se não estudares» funciona, sintaticamente, como um modificador, já que a sua presença não é obrigatória para garantir a gramaticalidade da frase [=«Não farás a cadeira em julho»].
2 – Creio não existir nenhuma regra que limite a presença da partícula se antes de um infinitivo (flexionado ou não flexionado). Tudo dependerá do contexto e da respetiva intenção comunicativa do enunciador. Ex.:
«Seria muito bom se você passasse na prova.»
«Será muito bom se você passar na prova.»
«Se tu vieres cedo, iremos jantar fora.»
«Se tu tivesses vindo cedo, teríamos ido jantar fora.»
«Se faltar outra vez a água, apresento queixa na câmara municipal.»
«Se faltasse outra vez a água, queixava-me à câmara municipal.»
Como se pode verificar, são muitas e variadas as possibilidades e combinações possíveis.
3 – Neste caso, estamos perante uma oração subordinada integrante/completiva não finita (= «Não é bom que se diga ao chefe a verdade»/«Isso não é bom), com função sintática de sujeito. Nestes enquadramentos, as orações subordinadas completivas/integrantes não são introduzidas por relativos nem por conjunções subordinativas.
Assim, do meu ponto de vista, este se é um clítico impessoal: «Não é bom alguém (um sujeito indeterminado) dizer ao chefe a verdade.» Admito, porém, na linha do que é defendido por João Andrade Peres e Telmo Móia, Áreas Críticas da Língua Portuguesa, p. 238, que frases deste tipo sejam «estruturalmente ambíguas», do ponto de vista sintático, pois podemos entendê-las como construções passivas (em que o argumento interno – neste caso, a verdade – é sujeito) e como construções impessoais (em que temos um sujeito indeterminado, e o argumento interno – a verdade – é complemento direto). Naturalmente que, no primeiro caso, o se seria considerado apassivador. Contudo, independentemente da ambiguidade sintática que eventualmente possamos vislumbrar, ao nível semântico, a informação veiculada será a mesma nas duas construções.