Pode considerar-se que o gentílico em questão, sul-americano, é um composto morfológico, por nele se incluir uma forma (neste caso, sul) que não deve ser analisada como palavra autónoma, mas, sim, como radical – apesar de ter a mesma forma e significado semelhante ao adjetivo e substantivo sul, com um valor de especificação equivalente a «do sul» (ver mais adiante). Não se trata de um composto morfossintático, porque este tipo de composto associa sempre duas palavras, em resultado da cristalização de uma unidade sintática, eventualmente abreviada; ex.: porta-chaves < «porta chaves», isto é, «algo que leva chaves»; bomba-relógio < «bomba e relógio» ou «tipo de bomba que tem relógio»; azul-escuro < «azul que tem tom escuro».
Note-se que, em sul-americano, encontramos dois constituintes concatenados, ou seja, temos um primeiro elemento invariável, sul, e um segundo elemento, núcleo do composto, que consiste numa forma derivada de América ([americ[an][o]) com valor de gentílico. A flexão em género e em número é feita apenas pelo elemento nuclear: sul-americano, sul-americana, sul-americanos. A formação deste composto e de outros semelhantes (norte-americano, sul-africano, norte-coreano), todos eles incluindo um primeiro elemento invariável1 referente aos pontos cardeais, encontra paralelo noutros adjetivos pátrios ou gentílicos compostos, que coordenam uma forma adjetival invariável e outra variável (cf. belgo-suíço, belgo-suíços) e se classificam como compostos morfológicos (ver M. H. Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 974). Todos estes adjetivos e substantivos compostos apresentam hífen entre os seus constituintes (cf. Acordo Ortográfico de 1945, Base XXVIII, e) e Acordo Ortográfico de 1990, Base XV, 1.º).
1 O Formulário Ortográfico de 1943, que esteve em vigor no Brasil até 1990, referia formas como anglo e luso enquanto « prefixos que representam formas adjetivas».