De facto, o ditongo nasal final é uma idiossincrasia da nossa língua. As formas latinas que originaram o ditongo nasal -ão foram as seguintes:
(i) -ane (ex: pane > pão)
(ii) -one (ex: oratione > oração)
(iii) -anu (ex: veranu > verão)
(iv) -um (ex: sum > são, arcaico = sou)
(vi) -unt (ex: sunt > são)
(vii) -ant (ex: dant > dão)
(viii) -on (ex:non > não)
Ou seja, a partir do português antigo mais tardio registou-se uma convergência das terminações nasais em -ão. E, como todas as alterações linguísticas, esta uniformização começou na linguagem oral, embora no período medieval existissem várias grafias para marcar a nasalidade em fim de palavra, tais como: -ã, -am, -õ, -on, -ão, -õo, -ãa, -om. Por um lado, esta proliferação de grafias deve-se em parte ao conservadorismo no português antigo na ortografia que tentava ser a mais etimológica possível; por outro lado, desde cedo começaram a surgir terminações gráficas onde não seria de esperar, como por exemplo nas Cantigas de Santa Maria (século XIII), em que surge a rima entre -am e -ão (cf. Rosa Virgínia Mattos e Silva, Estruturas Trecentistas, 1989). Será já a partir do português clássico que a forma gráfica -ão começa a generalizar-se, consagrando a perda de contraste fonológico entre as antigas terminações nasais.
Sempre ao seu dispor,