Significando «conversa, conversação», «linguagem ou tom familiar», «maneira de falar» e, mesmo, «língua ou idioma» (caso do ‘sermo latinus’, isto é, língua latina, em Cícero), encontramos o sermão – basta pensar no célebre “Sermão da Montanha” – já na boca de Cristo. Remetendo, literariamente, para a Oratória sacra, a nossa tradição conheceu dois pregadores maiores: Santo António (1195-1231), em latim, e o padre António Vieira (1608-1697), que o toma por modelo. Mas, desde o século XVI, temos inúmeros pregadores que escrevem em português os seus sermões áulicos, de exéquias, da Quaresma, da Páscoa, etc., sobretudo bispos, frades ou provinciais de ordens religiosas e lentes de Teologia. É impressionante o sermonário religioso, para lá da oratória política, que acompanha a Restauração de Portugal (1640) e outros momentos-chave da vida nacional. É no séc. XVII, porém, que se afina a arte de pregar – na base dos chamados «conceitos predicáveis» –, no propósito de surpreender o auditório segundo regras de enunciação do tema, de exposição do plano, seu desenvolvimento e interpretação dos «quatro principais sentidos» do texto bíblico, prendendo quem ouve, “elevando-o” asceticamente. Esta especialidade, que há-de levar à distinção entre o modo português e o modo castelhano de pregar (tido por histriónico), é muito criticada desde o séc. XVIII; mas, já na Idade Média, se parodiava a oratória sacra em sermões jocosos, fosse na tradição goliardesca francesa, fosse na boca de estudantes portugueses, que sermonavam de amores servindo-se da Sagrada Escritura.