De acordo com os instrumentos de normalização da língua, o verbo assistir, com o sentido de «presenciar, ver», é um verbo transitivo indirecto, devendo reger a preposição a. Esta é a informação que encontramos em qualquer dicionário ou gramática da língua portuguesa, variante europeia ou brasileira.
É, assim, correcto dizer «assistir a um filme», mas não «assistir um filme».
Não podemos, no entanto, ignorar o uso que os falantes fazem da língua. O emprego do verbo assistir como transitivo directo é muito frequente no discurso dos falantes (mesmo dos falantes cultos), o que poderá ser um indício de uma mudança em curso na língua. Veja-se o que dizem Houaiss e Aurélio nos seus dicionários:
Dicionário Houaiss:
«No português do Brasil, é comum o uso, mesmo pelas pessoas cultas e na literatura, deste verbo [assistir] como transitivo direto: assistir o filme, a sessão, etc.»
Dicionário Aurélio − Século XXI:
«Nota-se, no Brasil, viva tendência para o emprego do verbo [assistir] em tal acepção, como transitivo direto: Assistiu a reunião.»
A passagem de verbos transitivos indirectos a transitivos directos não é um fenómeno inédito no português. Ao longo da história do português, variantes preposicionadas substituíram variantes não preposicionadas e vice-versa. O verbo ajudar, por exemplo, já seleccionou a preposição a em estádios anteriores da língua, como mostra o seguinte exemplo do século XIII: «Rogollj por Amor de deus (e) por mesura q(ue) el Ajude A dõ Meendo Abade de san Johan(e) da pendorada A cõp(ri)r esta mãda.». In Dicionário de Verbos Portugueses do Século 13 (Xavier et al., 1999).