No contexto em questão, raro é variante de ralo (ver o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, e o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).
Ralo tem, entre outras aceções, a de «placa com orifícios, ou grade, colocada nas portas, nas janelas dos conventos, nos confessionários etc., através da qual se pode observar o que se passa fora, sem ser visto, ou se comunicar com alguém evitando contato direto». É nesta aceção que raro ocorre no texto camiliano, visto ser a referencialmente mais adequada. Com efeito, a ação narrada decorre na portaria dum mosteiro, aonde chega Mariana; e um padre conversa com uma freira – «a prioresa» – havendo entre eles uma porta com um ralo, isto é, uma grade, através da qual conseguem comunicar. Depreende-se que a freira está no lado de dentro da porta, porque se diz que o padre apreciava a beleza de Mariana, enquanto tinha «outro [olho] no raro, onde a ciumosa prioresa se estava remordendo». Refira-se também que raro é a forma que ocorre efetivamente em Amor de Perdição, mesmo na sua 1.ª edição, de 1862 (p. 115).