A expressão «quarta pessoa gramatical» é utilizada para descrever um fenómeno gramatical que se verifica em certas línguas como, por exemplo, algumas línguas dos povos aborígenes no Canadá. Este fenómeno consiste sobretudo numa variação da terceira pessoa que serve para designar um elemento com um papel secundário na frase. Este tipo de pessoa gramatical surge em estruturas designadas na literatura por «obviation construction» (em português, numa tradução livre, «construções de obviedade»).
De acordo com Bliss (2017)1 uma «construção de obviedade» tem como função desambiguar a informação referente a várias terceiras pessoas numa frase através da marcação com morfemas típicos deste caso nos pronomes ou nos nomes menos proeminentes para a informação veiculada pela frase.
Segundo informações disponíveis em fóruns de discussão na internet, os pronomes que nestas línguas são marcados com o caso da obviedade equivalem, em inglês, ao pronome indefinido one, em construções como: «One was clean and the other was dirty» (em português, numa tradução livre, «um estava limpo e o outro estava sujo»). Neste sentido, poderemos concluir que em português estes casos podem ser representados pelos pronomes indefinidos ou pelo sujeito nulo.
Note-se que na maioria das línguas indo-europeias, como é o caso do português e do inglês, apenas existem três pessoas gramaticais: a primeira, a segunda e a terceira.
1. Bliss, Heather (2017). Dependencies in syntax and discourse: Obviation in Blackfoot and beyond. Working Papers of the Linguistics Circle of the University of Victoria 27(1), 1-26