Paralelamente ao prefixo pre-, existe também o prefixo pré-. Ambos têm origem no latim ‘prae-‘, e ambos exprimem a ideia de «anterioridade (no tempo ou no espaço), superlatividade, superioridade», conforme nos diz o Dicionário da Porto Editora. A diferença entre eles é que o primeiro se associa sempre ao elemento seguinte sem hífen, enquanto o segundo, por ser acentuado, não prescinde do traço de união.
O Dicionário Houaiss é bastante mais completo a este respeito:
«pre- – pref. de origem latina, ‘prae-‘, que ocorre em lat. como preposição de ablativo, como advérbio e como prefixo propriamente dito, com a noção de “anterioridade, antecipação, adiantamento, diante, superioridade comparativa” – e relacionado, por conseguinte, com o pref. pré- de cultismos; também pre- é cultismo, tanto assim que os poucos casos do século XIII são de ostensiva influência eclesiástica (pregar e derivados, premer e premudo), isto é, pioneira da entrada de cultismos na língua; há nos séculos XIV e XV um número reduzido desses cultismos precoces, mas a partir do século XVI eles multiplicam-se, de tal modo que, hoje em dia, o Vocabulário Ortográfico regista pelo menos 800 palavras com ele; é de presumir que, desses, não poucos terão tido entrada como pré- (raro assim grafado), acentuação e abertura que logo desapareceriam com a frequência de uso da palavra em causa; há, por conseguinte, uma forte relação de continuidade entre pré- e pre-, convindo a leitura cotejada de ambos os verbetes conexos.»
E é isso que vamos fazer:
«pré- – pref. de origem latina, ‘prae-‘, que ocorre em lat. como preposição de ablativo, como advérbio e como prefixo propriamente dito, com a noção de “anterioridade, antecipação, adiantamento, diante, superioridade comparativa”, base, no vulgar e em prefixados originariamente latinos, do pref. pre-; a forma aqui registada é, no Vocabulário Ortográfico, objecto da observação “é seguido de hífen” – o que, noutros termos, quer dizer, no padrão culto, que, se for pronunciado com o -e- aberto (o que normalmente não ocorre com pre-), deve ser seguido de hífen; Rebelo Gonçalves, no seu vocabulário, faz o seguinte registo: “Normalmente seguido de hífen: pré-clássico, pré-histórico, pré-romano, pré-socrático, etc. Dispensa, porém, o hífen, se, fazendo as vezes de uma palavra composta, se liga a um composto de pós- ou proto-: pré e pós-socrático, pré e proto-histórico” (esta sub-regra não é objecto de recomendação no sistema gráfico brasileiro); em ambos os casos, porém, não se explicita que o uso de pré- deriva de situação neológica e não consuetudinária: é que, em verdade, na medida em que o emprego de pré- tende a vulgarizar-se, na mesma medida tende a passar a pre-: o V. O. consigna o facto com registos dúplices: pré-contracção/precontracção, pré-cordilheira/precordilheira, pré-forma/preforma, pré-formar/preformar, etc; por outro lado, o carácter fortemente livre do pref. pré- em situações ‘ad hoc’ é tal que, na prática, fica aberto ao utilizador decidir empregá-lo; ao acaso, vão aqui alguns exemplos: pré-capaz, pré-dactilografia, pré-indisposição, pré-preparar, pré-prender, pré-ressurreição, pré-restaurar, pré-santo; uma análise temática dos vocábulos passíveis, mais ordinariamente, da prefixação com pré- revela que ela ocorre frequentemente com designativos de períodos, fases, estádios, estágios, espaços escalonados, situações espaciais relativas e afins: pré-abdominal, pré-acção, pré-adamismo, pré-adivinhar, pré-amplificador, pré-anestesia, pré-antepenúltimo, pré-basilar, pré-bizantino, pré-cancro, pré-carente, pré-consomântico, pré-digestivo, pré-diluviano, pré-fabricado, pré-glaciário, pré-genital, pré-humano, etc.»
Posto isto, penso que ficou claro que é tão correcto pré-visualizar como previsualizar.
Se, numa primeira fase, o uso de pré- é mais eficaz, por nele se reconhecer mais facilmente a ideia de «anterioridade (no tempo ou no espaço), superlatividade, superioridade», é quase certo que, com o passar do tempo, a tendência será para o emprego de pre-. O facto de nenhuma obra consultada registar qualquer das possíveis grafias, aliado ao facto de na vossa empresa se preferir a forma acentuada, indicia que tal vocábulo se encontra ainda numa fase «neológica».
A respeito de à distância/a distância, queira fazer o favor de consultar as respostas anteriores A distância/à distância e Ainda o ensino a/à distância, e não hesite em voltar à carga se alguma dúvida persistir.
Não resisto a saudá-la pelo emprego da locução tem que ver com = «diz respeito a», cada vez mais rara nos dias que correm.