Trata-se de uma pergunta-tag. Outros exemplos:
a) É este o meu cacifo, não é?
b) Há gente muito irresponsável, não há?
c) Viste o que deu desculpar-lhe as asneiras, não viste?
d) Tu não choraste, choraste?
Estas perguntas-tag (ou perguntas-tag de retoma) são as perguntas de tipo sim/não, com entoação ascendente, que se seguem a uma frase assertiva/declarativa (ou frase de partida), mediante construção assindética (ou seja, sem recurso a conjunção). De um modo geral, estas perguntas repetem o verbo conjugado da frase assertiva de partida e elidem os elementos restantes, que passam a estar subentendidos:
a) É este o meu cacifo, não é [este o meu cacifo]?
As perguntas-tag podem apresentar polaridade inversa em relação à frase de partida, isto é, se a frase de partida é positiva, a pergunta-tag é negativa [exemplos a), b) e c)] e vice-versa [exemplo d)]. Porém, este requisito não é obrigatório, conforme se vê nos exemplos abaixo:
e) Tu não chegaste a ir ao médico, não foi?
f) Tu não viste nada, pois não?
A integração de uma pergunta-tag num enunciado faz de toda a sequência uma sequência orientada. Consideremos o enunciado interrogativo correspondente sem a pergunta-tag:
a’) É este o cacifo que me foi destinado?
Aqui, o locutor faz pressupor que não sabe algo e que quer saber, ou seja, não há qualquer expectativa do locutor sobre a resposta do interlocutor.
Mas já no enunciado com a pergunta-tag o locutor veicula que sabe alguma coisa ou que suspeita de algo, expresso na frase de partida, e que espera uma resposta concordante da parte do alocutário.
Assim, em a) há um pedido de confirmação daquilo é dito na frase de partida; em b) o locutor solicita ao interlocutor um julgamento positivo sobre a verdade daquilo que é dito; em c) o locutor coloca o interlocutor na impossibilidade de rejeitar aquilo que é dito.
Em todo o caso, a pergunta-tag é uma estratégia com vista a evitar a suspensão da validação da relação predicativa constante na frase de partida.