Segundo o Acordo de 45, de facto, a forma abreviada — «pára» — da palavra composta pára-quedista, era acentuada graficamente (acento que foi eliminado pelo atual AO 901), tal como o primeiro elemento da palavra original (forma do verbo parar).
Portanto, tendo como base essa grafia, esse termo não perde o acento gráfico no plural2, uma vez que não há alteração de timbre da vogal tónica, seguindo a regra geral da formação do plural dos substantivos/nomes —, visto que a forma reduzida pára, ao tornar-se uma palavra lexicalizada pelo uso, ganha o estatuto de nome/substantivo3. Assim, tal como qualquer substantivo terminado em vogal, forma o plural acrescentando-se um -s ao singular: páras.
Importa referir que, apesar de o termo pára/para não se encontrar registado nos dicionários e nos vocabulários ortográficos como forma abreviada do nome pára-quedista/paraquedista/para-quedista (sendo para classificado como preposição ou como elemento de formação de palavras — para-choque, parapente —, o Portal da Língua Portuguesa acolhe a forma para (com sílaba tónica em para) como nome masculino e feminino, indicando a forma plural paras.
Nota: Uma vez que o termo abreviado pára/para, enquanto forma lexicalizada, adquiriu a classificação de nome/substantivo, o que implica a formação do plural com a junção do -s ao singular, considera-se pertinente não deixar de assinalar a forma diferenciada do plural da palavra composta de que deriva. Na palavra original — paraquedista (aglutinada) e para-quedista (segundo o novo AO e conforme o Vocabulário Ortográfico do Português, da responsabilidade do ILTEC) e pára-quedista (forma anterior) —, como o primeiro elemento da composição, pára/para é uma forma verbal (do verbo parar, na 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo), faz-se o plural flexionando unicamente o segundo elemento4. Ficarão, portanto: os paraquedistas5, os para-quedistas e os pára-quedistas.
1 Tal como o consulente indica, a forma verbal do verbo parar perde o acento agudo com a aplicação do AO (no ponto 9 da Base IX): «Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc.».
2 No plural, a vogal tónica a, que é acentuada graficamente, não muda de timbre, mantendo-se aberta. Para além disso, só há alteração no acento gráfico nos substantivos «com deslocação do acento tónico» no plural, como são exemplo os casos de cará(c)ter/cara(c)teres, espécimen/especímenes, Júpiter /Jupíteres, Lúcifer/Lucíferes,Luciferes, assim como cós/coses e réptil/réptis,reptis. (Cf. Cunha e Cintra, p. 185.)
3 Essa classificação encontra-se atestada pelo Portal da Língua Portuguesa, que regista o nome para (com a atual grafia, assinalando a como sílaba tónica não acentuada a 1.ª, pa).
4 Quanto ao composto para-quedista, em que os termos componentes se encontram ligados por hífen, uma vez que «o primeiro termo do composto é verbo (para) e o segundo [substantivo ou] adjectivo, só o segundo vai para o plural» (idem, p. 188) — para-quedistas.
5 Relativamente ao plural do composto aglutinado, segue a regra geral, tal como já nos indicam Cunha e Cintra: «Quando o substantivo composto é constituído por palavras que se escrevem ligadamente, sem hífen, forma o plural como se fosse um substantivo simples» (idem, p. 187).