Antítese, oximoro e paradoxo são três termos que se podem prestar a confusões, dada a proximidade dos seus conceitos.
1. A antítese é a contraposição de dois pensamentos de volume sintáctico variável. Podemos considerar a antítese de frase, a de grupos de palavras e a de palavras isoladas.
a) Na antítese frásica, são contrapostas entre si proposições inteiras. Ex.: "Eu não mando, nem vedo." (Castro, IV)
"E, porque tanto calou, por isso deu tamanho brado." (Sermão de Santo António, V)
b) A antítese pode ocorrer entre grupos de palavras.
Ex.: "Ajunta ao mal passado o bem presente." (Castro, I)
"Dai-me uma fúria grande e sonorosa / e não de agresta avena ou frauta ruda, / mas de tuba canora e belicosa" (Os Lusíadas, I, 5)
"a minha família... Já não tenho família" (Frei Luís de Sousa, II)
c) Há ainda a antítese de palavras isoladas.
Ex.: "D'ua parte receo, mas d'outra ouso." (Castro, II)
"A justiça, senhor, pinta-se armada / De espada aguda, contra cujos fios / Não possa haver brandura nem dureza." (Castro, IV)
2. Se entre esses termos em oposição se constituir uma relação absurda, inverosímil, que foge às regras comummente aceites, estamos perante um oximoro. De uma forma simples, pode dizer-se que o oximoro é uma intensificação da antítese e consiste na ligação de duas imagens que se excluem: a doce amargura do amor; a morte viva, a vida morta, o sol sombrio, o nada infinito, a vazia plenitude. Na antítese há o contraste, mas no oximoro já há o absurdo, o paradoxo. O oximoro pode ser o resultado:
da ligação inesperada entre o portador da qualidade (o substantivo ou o verbo) e a qualidade em si (expressa no adjectivo ou advérbio): a vida mortal; um cruel socorro; o ódio amoroso; a querida inimiga; o contentamento descontente.
da ligação entre duas qualidades (expressas por adjectivos, advérbios, locuções) atribuídas ao mesmo substantivo ou verbo: cara e cruel esperança; aquela triste e leda madrugada; um camponês / que andava preso em liberdade pela cidade (Alberto Caeiro, referindo-se a Cesário Verde); é solitário andar por entre a gente.
da afirmação da existência e inexistência simultâneas de uma mesma coisa: fogo que arde sem se ver; ferida que dói, e não se sente.
3. O paradoxo é uma infracção relativamente à opinião consagrada, ao verosímil, às leis da vida ou da matéria. O seu conceito é mais amplo que o de oximoro. Ocorre, por exemplo, na ironia, na hipérbole, em certas perífrases, etc. O oximoro é apenas uma das formas de exprimir um paradoxo.
Podemos considerar nestes versos camonianos a existência de antíteses pois eles estão formalmente construídos por meio de palavras ou grupos de palavras em oposição. No entanto, não se trata de uma simples oposição de termos. Ao ligarem-se esses termos, cria-se um fenómeno paradoxal. Por isso, realmente, eles documentam o oximoro.