A questão que o consulente coloca tem que ver com a regência do verbo pagar. Quando o seu complemento é uma coisa, este verbo é transitivo directo («pagar algo»); quando o seu complemento é uma pessoa, o verbo pagar é transitivo indirecto, regendo a preposição a («pagar a alguém»).
No exemplo apresentado pelo consulente, sendo o complemento do verbo pagar [+ humano], este deve ser antecido da preposição a, que, ao se juntar ao artigo a, dará então origem à contracção à. A construção correcta seria, tal como o consulente sugere, «… pagar à Mónica».
Atente-se, no entanto, ao que diz Luft no seu Dicionário Prático de Regência Verbal:
«Puristas logicistas só aceitam objeto indireto de pessoa com este verbo, condenando a sintaxe evoluída pagar alguém, pagá-lo. Esta, no entanto, é de uso freqüente e, até literariamente, bem documentada. […] Ouvir-se-á no entanto de qualquer brasileiro: Já paguei o professor. […] Explicação: na estrutura [pagar – algo – a alguém], vagando a segunda posição, pode ela ser preenchida pelo ocupante da terceira, que assim perde a preposição; ou seja, na vaga do objeto direto pode o indireto passar a direto. […] Nova estrutura para a semântica ‘(re)embolsar, (re)compensar, indenizar’. Sintaxe legítima, portanto. Quando muito, pode-se dizer que na língua escrita formal, a sintaxe pagar a alguém, pagar-lhe é preferível a pagar alguém, pagá-lo.»1
1 N. E.: Quando pagar é transitivo indirecto («pagar a alguém»), a presença ou ausência de crase pode ser também o resultado da opção por um estilo mais formal, em que não se usa o artigo («pagar a Mônica»), ou por um registo informal, em que se usa o artigo e se verifica a contracção com a preposição a («pagar à Mônica»).