Já temos muitas vezes assinalado a frequente dificuldade em distinguir substantivos concretos e substantivos abstractos, sobretudo pelo facto de haver diferentes graus de concretude e de abstracção. As palavras preparativo e ideia são, em princípio, substantivos abstractos, porque não nomeiam seres ou objectos tangíveis.
Pegando em duas gramáticas de referência, verificamos que na conceptualização de um substantivo concreto está, sobretudo, subjacente a ideia de esse nome referir uma entidade perfeitamente individualizada no mundo físico, seja ela animada ou não-animada. Assim:
— Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (pág. 177), definem os substantivos concretos como os que «[...] designam os seres propriamente ditos, isto é, os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de um género, de uma espécie ou de um dos seus representantes», dando como exemplos: homem, Pedro, Maria, cidade, Lisboa, Brasil, Senado, Fórum, clero, árvore, cedro, Acaica, cão, cavalo, Rocinante. Os substantivos abstractos são os que «[...] designam noções, acções, estados e qualidades, considerados como seres» (idem); por exemplo (ibidem): justiça, verdade, glória, colheita, viagem, opinião, velhice, doença, limpeza, largura, optimismo, caridade, bondade, doçura, ira.
— Evanildo Bechara dá uma definição próxima (Moderna Gramática Portuguesa, pág.113):
«SUBSTANTIVO CONCRETO é o que designa ser de existência independente: casa, mar, sol, automóvel, filho, mãe.
SUBSTANTIVO ABSTRATO é o que designa ser de xistência dependente: prazer, beijo, trabalho, saída, beleza, cansaço.
Os substantivos concretos nomeiam pessoas, lugares, animais, vegetais, minerais e coisas.
Os substantivos abstratos designam ações (beijo, trabalho, saída, cansaço), estado e qualidade (prazer, beleza), considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual.»
As definições aqui citadas devem ser usadas com alguma cautela, porque a classificação de um substantivo pode depender de factores contextuais: pegando em colheita, é óbvio que, como acção, é um substantivo abstracto, mas como resultado dessa acção, por exemplo, com referência aos vinhos, é de aceitar que a expressão «colheita de 2003» inclui um substantivo que é ou tende a ser concreto. É também por isso que este contraste requer alguma precaução em contexto didáctico-pedagógico: não se tratando de uma distinção inequívoca, os exemplos a ser testados devem ser claros. Se o não forem, o melhor é deixá-los para actividades e níveis de desenvolvimento intelectual que permitam uma problematização. Seria este o caso de preparativo no plural, preparativos, que, apesar de abstracto, tende a tomar um sentido mais concreto (cf. Olívia Maria Figueiredo e Eunice Barbieri de Figueiredo, Dicionário Prático para o Estudo do Português, Porto, Edições ASA, pág. 102).