Na resposta dada ao estudante Rudolfo Veríssimo, nada se diz sobre a origem da palavra fogo, visto que não é isto que ele pede. O que ele «gostaria de saber» era «a origem da utilização da palavra fogo referindo-se a uma habitação.» Foi a isto que respondi.
Se este consulente tivesse perguntado a origem da palavra fogo, a resposta seria outra, mas sem nada ter que ver com a mitologia latina. A resposta teria sido esta:
A palavra fogo provém do latim focu(m), acusativo de focus, com significado de fogo, casa, família.
A nossa palavra fogo, neste sentido, nada tem que ver com a mitologia, pois que esta é, como sabemos, a história fabulosa dos deuses, dos semideuses e dos heróis da antiguidade. É o conjunto dos mitos, das narrações fabulosas que formam o fundo duma religião politeísta.
Sendo Portugal um país cristão, compreende-se que a nossa palavra fogo não esteja relacionada com a mitologia, a ciência dos mitos, quando a empregamos, referindo-nos a uma habitação. Era sobre este significado que o consulente Rudolfo Veríssimo desejava obter informações.
Na civilização romana, sim, além dos vários significados que nada tinham que ver com a mitologia, empregava-se também, e frequentemente, com o sentido de fogo sagrado. O conhecidíssimo e belo escritor romano Cícero (Marcus Tallius Cicero), do ano 43 antes de Cristo, escreveu esta frase que lemos no «Novíssimo Dicionário Latino-Português» de L. Quicherat, em Tradução de F. R. dos Santos Saraiva, em 1927:
«Vis Vestae ad aras et focos pertinet», O poder de Vesta é nos altares e no fogo sagrado.
Como vemos, não há motivos para se supor que a minha resposta está incompleta.
Estou muito grato à consulente Odete Domingues. Ando neste mundo para aprender. E é com as pessoas que me fazem determinadas observações e com as que discordam de mim que eu aprendo. Obrigam-me a observar, a pensar, a estudar... e finalmente a resolver.
Com os que concordam comigo, nada aprendo. Muito agradecido, pois.