A palavra tipo, no contexto mencionado, é, atualmente, bastante utilizada, em situações informais, sobretudo pelas camadas mais jovens da população portuguesa. Porém, tenho verificado que a mesma começa igualmente, de forma progressiva, a ser usada por pessoas pertencentes a faixas etárias mais elevadas. O seu uso é já tão comum — e até descontrolado —, que se podem encontrar, na Internet, espaços em que se debate a quantidade de vezes que determinada pessoa usa a referida expressão por dia. É também frequente fazer acompanhar a expressão em análise pela palavra assim («tipo, assim»).
Ao ser usada com algum bom senso, digamos, a palavra tipo, no enquadramento que nos encontramos a analisar, terá muitas semelhanças com uma outra: estilo. Ex.: «Eu gosto de carros grandes, estilo/tipo Mercedes.» Contudo, o que verificamos é que o seu uso já extrapolou, em muito, esta aceção, e hoje diria que é quase impossível vislumbrar um significado coerente da mesma, tal é o número de contextos em que pode ocorrer, ex.: «Tipo, hoje não me sinto bem»; «Apetece-me, tipo, ir à praia»; «Eu vou a casa, tipo, 5 segundos, e já volto». Quase que podemos dizer que tipo é usado por tudo e por nada, sendo recorrente, do ponto de vista oral, atualmente, em quase todo o género de enunciados: «Tipo, ontem estava deitado e apeteceu-me falar contigo e mandar-te uma mensagem»; «Nunca sentiste, tipo, que estás apaixonado?»
Ora, é justamente neste enquadramento (se é que se pode aqui falar de enquadramentos) que a referida jornalista da SIC se dirigiu à entrevistada.
Assim, à falta de melhor, eu arriscaria (de forma algo aventureira, tenho essa consciência) inserir esta expressão no grupo dos chamados marcadores discursivos: «unidades linguísticas invariáveis, com alto grau de gramaticalização, que não desempenham uma função sintática no âmbito da frase, nem contribuem para o sentido proposicional do discurso, mas que têm uma função relevante na produção dos atos pragmático-discursivos, estabelecendo conexões entre os enunciados, organizando-os em blocos, indicando o seu sentido argumentativo, introduzindo novos temas, mantendo e orientando o contacto do locutor com o interlocutor» (Dicionário Terminológico, DOMÍNIO C: ANÁLISE DO DISCURSO, RETÓRICA, PRAGMÁTICA E LINGUÍSTICA TEXTUAL), mais concretamente no subconjunto dos marcadores conversacionais ou fáticos («ouve», «olha», «presta atenção», «homem», etc.). (Dicionário Terminológico, idem).