DÚVIDAS

O uso do coletivo panapaná (= «bando de borboletas»)

Sendo panapaná um nome indígena, por exemplo, em Portugal, qual seria o coletivo de borboletas?

Panapaná pode ser considerado o coletivo de borboletas, ou é a denominação de vários bandos de borboletas...

Logo o correto – coletivo de borboletas é bando... Correto?

Resposta

Em Portugal, pelo menos no registo mais padronizado, não se usa geralmente um termo específico para um grupo de borboletas, a não ser a expressão «bando de borboletas», ou até «enxame de borboletas» (muito embora se reserve enxame para se falar de um conjunto de abelhas). Por exemplo, uma obra publicada em Portugal – Fernanda Carrilho, Dicionário de Nomes Colectivos (Publicações Europa-América, 2006) – regista apenas bando e enxame como coletivos correspondentes a borboleta. Tal não quer dizer que noutros pontos do mundo onde se fale português não possam ser usados vocábulos com origem em línguas não europeias e que estes não sejam corretos, com o argumento de não pertencerem ao léxico patrimonial de origem latina. Refira-se, aliás, que bando não é sequer parte desse património lexical, porque lhe é atribuída origem germânica, conforme se regista no Dicionário Houaiss: «[do] latim tardio bandum < got.*bandwa, `senha, sinal que identifica um grupo, bandeira´, por extensão, `conjunto, facção´.» Já enxame é de facto um vocábulo proveniente, por via popular, do latim exāmen, ĭnis, «enxame (de abelhas»).1

 Sobre o substantivo feminino panapaná, diga-se que apresenta a variante panapanã (Dicionário Houaiss), ambas com origem no  «redobro do tupi pa´nã, redução de pa´nama, `borboleta´» (idem). A palavra significa «borboleta», «bando de borboletas em migração», «aglomeração de borboletas de várias espécies, geralmente reunidas para sugar sais minerais em terra húmida à beira de rios» e «designação comum a algumas trepadeiras herbáceas do género Phaseolus, da família das leguminosas, subfamíla papilionoídea, campestres, geralmente usadas como forragem» (idem). Observe-se que, mesmo no Brasil, não parece palavra muito frequente, apesar da procedência ameríndia.2

1 A palavra exame, «prova», tem a mesma origem, mas é forma divergente, tendo aparecido em língua portuguesa por via erudita. O étimo latino exāmen, ĭnis significava «enxame de abelhas; manada de animais, rancho de homens», mas, figurativamente, também era usado na aceção de «ação de pesar, de ponderar, exame, cotejo», significação que se restringiu à  forma transmitida por via culta ao português  (Dicionário Houaiss).

2 Panapaná/panapanã não ocorre no Corpus do Português, nem no Google News Brasil nem na revista Veja; tem uma única ocorrência na Folha de São Paulo, com indicação de se tratar de um nome coletivo (informação de Luciano Eduardo de Oliveira).

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa