Geralmente, no português de Portugal, usa-se ajoelhar como verbo reflexo não causativo (ajoelhar-se) ou causativo («alguém ajoelhar alguém» = alguém pôr alguém de joelhos»). Contudo, os dicionários elaborados em Portugal ou os que têm como referência a norma linguística de Portugal não deixam de conter atestações do uso não causativo:
1 – «Custódio ajoelhou no chão, pousou a cabeça sobre a cama, e começou a produzir pequenos gemidos de intolerável mágoa» [Agustina Bessa-Luís, A Sibila, citada em ajoelhar, Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, 2001].
2 – «Maria ajoelhou atrás dele, que semelhava continuar indiferente à sua súplica» [Urbano Tavares Rodrigues, Vida Perigosa, Amadora, Livraria Bertrand, 1974, citado em ajoelhar, Dicionário Sintático de Verbos Portugueses, dir. Wienfried Busse, Coimbra, Almedina, 1994].
Refira-se, porém, que o uso do pronome -se se regista como opcional em dois dicionários brasileiros – Dicionário Houaiss (2001) e Dicionário UNESP do Português Contemporâneo (2004) –, o que sugere que, no português do Brasil, a ocorrência de ajoelhar sem o referido pronome está mais presente na descrição da língua do que em Portugal. De qualquer modo, registe-se o que, na perspetiva brasileira, diz Maria Helena de Moura Neves, no seu Guia de Uso do Português (São Paulo, Editorial UNESP, 2004, p. 51)1 : «Usa-se indiferentemente a forma simples ou a forma pronominal do verbo. AJOELHOU na hortelã-do-campo. Queria rezar. ♦ (COB) AJOELHOU-SE, os olhos tristes, segurou a mão de Emílio. (OS)»2
1 Siglas usadas na citação: COB = Corpo de baile, João Guimarães Rosa, Rio de Janeiro, José Olympio, 1956; OS = Os servos da morte, Adonias Filho, 2.ª ed., Rio de Janeiro, GRD, 1965.
2 Comunica-me o consultor Luciano Eduardo de Oliveira que, em certo discurso escrito do Brasil, se nota preferência por ajoelhar-se, como evidencia uma pesquisa pela Folha de S. Paulo.