Nos dicionários de português, a palavra agenda mostra que sofreu uma evolução semântica. A consulta de dicionários mais antigos, como o Novo Dicionário da Língua Portuguesa (3.ª edição, s. d.), de Cândido de Figueiredo, o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa (1958), de Caldas Aulete, e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (1981), de José Pedro Machado, revela que agenda tem o significado genérico de «livro ou caderno em que se anotam os gastos diários ou o que se tem de fazer» (José Pedro Machado, op. cit.). Nos dicionários mais recentes – Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – DLPC (2001), da Academia das Ciências de Lisboa, e Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa – DHLP (2001) – passa-se a incluir as seguintes acepções: «série de compromissos, encontros, reuniões… ou de assuntos a tratar mesmo que não estejam anotados em agenda» (DLPC; também em DHLP numa formulação diferente); «o registro diário dessas anotações [as de uma agenda]» (DHLP); «temário ou programa de conferências, convenções, congressos, etc.» (DHLP; também em DLPC, mas numa formulação diferente).
Penso que as novas acepções de agenda que ficam evidenciadas por uma locução como «agenda de trabalhos» (numa atestação de DLPC) podem ser muito bem ser o resultado de processos semânticos de metonímia e de extensão de sentido, como propõe o DHLP. No entanto, há também que contar com o sentido da palavra inglesa “agenda”, o qual corresponde exactamente ao de compromissos ou tópicos a serem tratados. Com efeito, no Cambridge International Dictionary of English, “agenda” significa «lista de assuntos a ser discutidos numa reunião», enquanto “diary” aparece, no Oxford Portuguese Dictionary, como tradução de agenda, ou seja, «livro de registo do que se tem de fazer diariamente»
Respondendo directamente à pergunta, reconheço que actualmente o sentido de agenda está ligado ao que se tem de fazer, o que neste caso quer dizer que se trata de compromissos a cumprir. Mas como se pode faltar ao cumprimento de tais compromissos, e porque falar em objectivos é um tanto mais vago, é possível utilizar igualmente agenda como «lista de objectivos a prosseguir».
N.E. O autor escreve segundo a Norma de 1945.