O pronome relativo surge, habitualmente, logo após o nome que representa. Quando esse nome faz parte de um sintagma nominal mais complexo como é o caso de «Os primeiros protótipos do Pólo…» o pronome relativo continua a representar o núcleo desse sintagma, no caso em análise, protótipos. Se tivermos em conta apenas a distribuição das palavras na frase, o antecedente do pronome que é protótipos e o verbo começa deverá ir para o plural.
No entanto, o confronto da mensagem veiculada pelas duas orações que integram esta frase complexa permite verificar a impossibilidade semântica desta interpretação.
Oração subordinante:
«Os primeiros protótipos do Polo... estão rodando em campo aberto e quase sem camuflagem.»
Oração subordinada relativa:
«… que começa a ser fabricado no começo do ano…»
O pronome relativo que serve de sujeito a começa não tem como antecedente protótipos, pois estes, se já «…estão rodando…», não podem começar a ser fabricados! O antecedente é, pois, Polo.
Pela análise do contexto, conclui-se que houve uma espécie de abrandamento do núcleo do sintagma nominal, permitindo o destaque do nome que integra o complemento determinativo. Um dos factores que poderão ter contribuído para esse efeito é o facto de Polo vir antecedido de artigo definido (de + o).
Comparem-se as frases (1) e (2):
(1) O vestido de noiva que vi ontem era bonito.
(2) O vestido da noiva que vi ontem era bonito.
O uso do artigo em (2) provoca a deslocação do antecedente tal como na frase em análise. Em (1) o que eu vi foi um vestido; em (2), o que vi foi uma noiva que tinha um vestido. Salvaguarda-se o facto de a expressão "vestido de noiva", tal como "vestido de noite", etc., ter um certo grau de fixidez, o que, se por um lado favorece a interpretação que aqui foi efectuada, por outro lado não permite, nestes dois exemplos, a construção que na frase em análise desfaria a possível ambiguidade: o uso da forma variável – ou determinante relativo – cujo:
«O Polo, cujos primeiros protótipos estão rodando em campo aberto e quase sem camuflagem, começa a ser fabricado no começo do ano, em São Bernardo do Campo.»
Note-se ainda a necessidade de inserir uma vírgula a seguir a Polo, se se considera que a relativa é explicativa, ou, caso contrário, de retirar a que vem na sequência de ano.