Em grego clássico, νέµεσις designava a indignação perante uma injustiça, sobretudo perante a prosperidade imerecida. Por extensão natural de sentido, referia-se também à vingança divina contra os que patenteavam tal prosperidade. Um termo muito útil, sem equivalente exacto em português…
O vocábulo cedo passou a ser usado como nome próprio (Νέµεσις), para designar a deusa da vingança e da justiça implacável. Os romanos adoptaram a personagem e o respectivo nome: Nemesis. Em português escrevemos Némesis ou, no Brasil, Nêmesis.
Em latim, Nemesis era um nome próprio, e os nomes próprios normalmente usavam-se apenas no singular, a não ser que revestissem a forma de apelativos. Nesse caso, o plural de Nemesis seria Nemeses, por se tratar de um substantivo pertencente à terceira declinação. No entanto, conforme explica António Freire na sua Gramática Latina: «Alguns autores, sobretudo historiadores e poetas, empregam is, em vez de es: Sardis em vez de Sardes; […] (a terminação is é a contracção da desinência eis dos respectivos casos em grego).»
Seja como for, não encontrei nenhum exemplo de plural em textos latinos: nem Nemeses (regular), nem Nemesis (irregular), nem Nemeseis (que seria o plural grego).
Em português, o plural de Némesis é igual ao singular («as Némesis»). O mesmo se oferece dizer em relação a um possível substantivo comum derivado deste nome próprio (némesis ou mesmo némese), que ainda não vi abonado em nenhum dicionário.1 No entanto, como o termo é utilizado na literatura anglo-saxónica (com várias acepções), é possível que também venha a ganhar foros de lei na nossa língua.
1 N. E.: O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (edição brasileira) já acolhe as formas nêmese e nêmesis.