É verdade que os dicionários referidos divergem. A palavra corresponde ao aportuguesamento do francês “bavette”, que é do género feminino. No entanto, a palavra em português está registada como substantivo masculino na 3.ª edição do Dicionário de Cândido Figueiredo e no Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado. Se consultarmos dois dicionários brasileiros, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e o Aurélio Século XXI, encontramos o vocábulo atribuído ao género feminino e descrito como lusismo, porque o termo corrente no Brasil é babadouro.
Sendo assim, há uma intrigante coincidência entre o Grande Dicionário da Porto Editora e os dicionários brasileiros, o que poderia levar a pensar que se tratava de alguma forma de influência. Não é bem disso que se trata: no Norte de Portugal diz-se «uma babete», ou seja, trata-se de um nome feminino. Porque optou o Grande Dicionário por esta forma?
O facto de a empresa que o edita, a Porto Editora, estar sediada no Norte de Portugal sugere que os lexicógrafos procuraram ser sensíveis às variantes portuguesas. Esta atitude é mais notória na transcrição fonética, quando no referido dicionário se opta por transcrever o dígrafo ou como [o(w)] (por exemplo, roubar surge como [Ro(w)’bar]), de modo a respeitar quer a pronúncia monotongada em [o] de grande parte de Portugal, quer a outra mais conservadora, com o ditongo [ow] da maior parte do Norte desse país.