Quando o /d/ é intervocálico, quer dentro de palavra (dado), quer entre palavras («casa da gente»), a sua tendência, no português europeu, é tornar-se uma consoante fricativa interdental sonora (ou vozeada)1, próxima ou igual ao th inglês – símbolo fonético [ð] –, que ocorre no artigo definido the, no demonstrativo that ou no adjetivo e pronome other.
Este fenómeno de fricatização abrange outras consoantes oclusivas sonoras intervocálicas e pode fazer parte das realizações da pronúncia-padrão.2 Regista-se também nos dialetos setentrionais portugueses e mesmo nos dialetos centro-meridionais, pelo menos, mais a norte. No entanto, não costuma ocorrer nos dialetos centro-meridionais do Alentejo ou do Algarve. Trata-se de um fenómeno de que os falantes não têm geralmente consciência clara, e, portanto, não parece ser motivo de atitude especial, ao contrário do que sucede com outras prolações.
1 Atualmente emprega-se mais vozeado nos estudos linguísticos. No ensino não universitário de Portugal, continua a falar-se em consoante sonora, por oposição a surda, embora ao parâmetro distintivo se chame vozeamento.
2 Cf. António Emiliano, em Fonética do Português Europeu (Lisboa, Guimarães Editores, 2009, p.251).