Na frase que a consulente apresenta, «O estilo grandiloquente é próprio da epopeia», estamos perante uma oração cujo sintagma verbal é constituído pelo verbo copulativo1 ser e predicativo do sujeito «próprio da epopeia». Refira-se também que a frase apresenta o predicador adjetival próprio, seguido pelo seu argumento interno, «da epopeia», que é complemento do primeiro. Para ocorrer «É-lhe próprio», onde o pronome pessoal lhe tem a função de complemento indireto, subentendemos o sintagma verbal «é próprio da epopeia» e admitimos a relação de posse associada ao adjetivo próprio, que, por si só, já permite uma leitura possessiva («que pertence exclusivamente a alguém» – definição em linha do Dicionário Priberam), ou seja, parafraseando, «o estilo grandiloquente pertence exclusivamente à epopeia».
Em construções como «É-me impossível falar» ou em «É-te difícil fazer», os pronomes pessoais de complemento indireto indicam um dativo de interesse2.
1 Segundo Mira Mateus et alii, «os verbos copulativos (...) são verbos que apenas seleccionam semanticamente um argumento interno – uma oração pequena, cujo núcleo pode ser adjectival (O bebé está contente), nominal (A Maria é astrofísica), preposicional (Os meus amigos estão com pena de se ir embora) ou adverbial (O museu fica perto da estação)», em Mira Mateus el al. 2003 – Gramática da Língua Portuguesa (7.ª ed.) p. 302.
2 Ver a descrição sobre os dativos livres de Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa (Editora Lucerna, Rio de Janeiro, 2002, pág. 424).