DÚVIDAS

O brasileirismo popular «vamos comigo»

Estes dias, em uma aula de espanhol, fui corrigida pela professora quando usei a expressão «vamos comigo», pois alegou se tratar de redundância. Entretanto, ela afirmou que em português, segundo a norma culta, a expressão também é inadmissível. Sabemos que a redundância deve ser evitada, mas em alguns casos é aceita, por questão de ênfase. Este não seria um destes casos? Encontrei, inclusive, um poema de Adélia Prado onde a escritora diz «vamos comigo...» (e poderia citar ainda outros exemplos na literatura). Resumindo: dizer «vamos comigo», segundo a gramática normativa, é ou não é aceito?

Obrigada.

Resposta

O uso «vamos comigo» é de facto uma redundância que a norma não aceita, porque, ao dizer-se «vamos», já se deixa implícita a ideia de que o sujeito que fala é companhia dos seus interlocutores – não é preciso reforçar a frase com comigo.

Deve, no entanto, observar-se que, no português coloquial brasileiro, é conhecida a expressão «vamos comigo», que chega a ser recriada literariamente: «– Pois é, Duda, você tá chegando tarde. Vamos comigo para o comitê – disse o sogro» (Joyce Cavalcante, Inimigas Íntimas, 1993, in Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira). E assinale-se que a linguagem da poetisa Adélia Prado vai buscar muitas construções ao português do Brasil mais popular. É o caso de «vamos comigo».

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