Vejamos, então, as frases seguintes:
(1) Nenhuns de nós saíram.
(2) Nenhuns de nós saímos.
A sua observação é de ponderar. Mas vejamos que, tanto na frase (1) como na frase (2), o pronome nós engloba completamente determinado grupo, no qual está incluído o eu. Isto é, tanto na frase (1) como na (2), ninguém saiu, incluindo o tal eu. Sendo assim, não é precisa a frase (2) para significarmos que «alguns de nós poderiam ter saído, inclusive eu, e não saímos.»
Como sabemos, a Língua Portuguesa é suficientemente maleável para ser correcto começarmos uma frase por uma palavra ou por outra. Experimentemos, então, começar por de nós as frases acima:
(3) De nós, nenhuns saíram.
(4) De nós, nenhuns saímos.
Em Portugal, não se costuma dizer a frase (4). Julgo que no Brasil também não. Em vez dela, dizemos a frase (3) ou, mais vulgarmente, a seguinte:
(5) De nós, ninguém saiu.
Estes factos levam-nos a não aceitar a frase (4), tanto mais que não é precisa a forma verbal saímos para englobar o eu, como já se disse.
Mas há uma explicação para não rejeitarmos definitivamente a frase (4). É a chamada concordância por atracção. Quando o emissor pronuncia a frase, o sujeito nenhuns como que se «esfuma», e ele fixa a atenção mais intensamente em nós, e assim é atraído a fazer a concordância do verbo com nós.
Para esta atracção para o «nós», contribui o facto de o emissor se ver e sentir como fazendo parte do grupo significado por este pronome pessoal.
Seja como for, devemos preferir a frase (3).