1- O substantivo feminismo não se formou regularmente. É termo que foi adaptado do francês, de acordo o Dicionário Houaiss: «[do] fr. féminisme (1837) "doutrina que visa à extensão dos papéis femininos"» (trata-se da mesma etimologia proposta por Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa). Féminisme tem formação erudita, segundo o Trésor de la Langue Française (CNRS): «Dér. du rad. du lat. femina (femme*); suff. -isme*.»*
*Tradução livre: «derivado do radical do latim femina (mulher); sufixo -isme)
2- Em português, seria possível a forma regular "femininismo", com duas sílabas praticamente iguais repetidas, em alternativa a feminismo, mas quis a história da língua que este, e não aquele, se fixasse no uso. Não se atesta relação histórica direta entre "femininismo" e feminismo: a queda de uma dessas sílabas (haplologia)* poderia explicar feminismo, mas não é obrigatória; basta lembrar que se diz corretamente competitividade, e não se aceita "competividade" (apesar de ser palavra usada).
*O termo haplologia é um conceito descritivo e não normativo.
3- Como se assinala na resposta em causa, apenas se encontra registo dicionarístico de masculinismo, vocábulo derivado regularmente. Poderia propor-se a criação de "masculismo", mas esta forma só se justifica de maneira rebuscada, como transposição simétrica de feminismo, pressupondo um radical latino mascul-", de «masclus ou masculus, i "um ser do sexo masculino"» (Dicionário Houaiss, s.v. masc-).
4- A respeito do francês, existe um debate à volta das ideias associadas às formas masculinisme e masculisme, termos que, embora permitam fazer uma destrinça conceptual, envolvem, do ponto de vista da formação de palavras, aspetos homólogos dos indicados em 3 para o português. Em inglês, a atitude simétrica do feminismo é apelidada de masculinist ou masculist, adjetivos que pressupõem os substantivos masculinism e masculism. Tal como aconteceu com feminismo, afigura-se possível a adoção das formas francesas e inglesas – que, assinale-se, contêm radicais de origem latina –, dando-lhes sufixos ou desinâncias próprias do português.
5- No contexto da discussão sobre a construção de género e identidade, poderão aceitar-se as duas formas, masculinismo e masculismo, mas, olhando para o caso francês, tudo depende também do grau de especialização com que se pretenda abordar o tema, o qual pode determinar o seu uso diferenciado. Nesta perspetiva, parece legítima a forma femininismo (apesar de condenada no glossário do Ciberdúvidas), de modo a marcar algum matiz conceptual que feminismo seja eventualmente incapaz de abarcar.
Em suma, para designar a doutrina e o movimento de emancipação das mulheres, usa-se feminismo pela razão exposta em 1. Relativamente à possibilidade de uma doutrina ou um movimento simétricos do feminismo, é de prever hesitação entre masculinismo (regular) e "masculismo" (encarado quer como mera adaptação do francês ou do inglês quer como neologismo de base exclusivamente latina).