O consulente tem razão ao dizer que internacional não se refere simplesmente a algo com origem no estrangeiro; o adjetivo internacional aplica-se ao que é relativo (concomitantemente) a duas ou mais nações, ao que é promovido entre nações ou àquilo que está relacionado com uma autoridade internacional (Dicionário Houaiss; dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Priberam, Infopédia). Contudo, esta palavra pode ser usada também como sinónimo não só de mundial, cosmopolita, global, universal, mas também de exterior, estrangeiro e externo (Dicionário Houaiss de Sinônimos e Antônimos; Dicionário Universal de Sinónimos e Antónimos).
No que se refere aos exemplos referidos pelo consulente, a expressão «atualidade internacional» está já consagrada no mundo jornalístico de expressão portuguesa (ver, por exemplo, Jornal do Brasil, agência Angola Press (Angop) ou a rádio TSF. Outros órgãos, talvez por influência da designação anglófona world news, optam por mundo ou globo para designar as notícias do estrangeiro (cf. Folha de S. Paulo, Público ou RTP). E mesmo numa área como a do desporto, em que o substantivo internacional designa alguém que joga ou jogou pela seleção nacional de um país em jogos entre nações, há jornais desportivos com uma secção denominada Internacional, como é o caso de A Bola, para referirem eventos e competições desportivas no estrangeiro.
O caso de «bolsas internacionais» parece ser, à semelhança do que acontece nos media (e, talvez, até por influência destes), o uso do adjetivo como sinónimo de estrangeiro. Repare-se que é muito mais utilizado no plural do que no singular (318 ocorrências contra 13 no corpus CETEMPúblico), parafraseando-se como bolsas estrangeiras e traduzindo a noção de um sistema global de avaliação dos índices das diferentes bolsas de valores.
Quanto aos restantes termos, parece-nos que, tal como refere o consultor, não será correto usar o termo internacional como sinónimo de estrangeiro: uma empresa ou um especialista internacional opera simultaneamente em dois países ou em vários países sucessivamente. Sobre cidadãos internacionais, a designação parece ter mais um sentido figurado: remete não para aqueles que têm, por exemplo, dupla nacionalidade, mas para figuras que se colocam acima dos nacionalismos, dentro do espírito da afirmação do filósofo Sócrates: «Não sou ateniense nem grego mas, sim, um cidadão do mundo.»