Os incisos não dizem respeito só à escrita literária1. São muito usados, por exemplo, em textos concernentes à advocacia. As regras inerentes ao enunciado literário são a lógica e a pertinência da presença do inciso. Este elemento é «uma frase ou oração encravada que interrompe o sentido de outra» (segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). Para que tal aconteça e respeite a coerência textual, o seu emprego deve ser racional. Tem de se ter em conta todo o contexto.
O inciso pode surgir como uma ideia de alguém que não está a usar da palavra. Por exemplo, na frase: «A mulher, dizem, tem um sentimento único em relação aos filhos.» Este enunciado está escrito na terceira pessoa, é atualizado por um emissor, mas o inciso demonstra a interferência de outras pessoas que não estão a participar no ato de fala. Dá mesmo a sensação de que o falante não está profundamente convicto do que diz e, portanto, tem a necessidade de apresentar a opinião de outros. Bastaria ter afirmado: «A mulher tem um sentimento único em relação aos filhos». Assim, julgamos que a pertinência será a regra que deve nortear a utilização dos incisos em literatura.
1 O termo inciso é usado como termo da descrição gramatical como uma «frase geralmente curta que se encaixa noutra mais longa para exprimir uma espécie de parêntesis ou para indicar a personagem que está a falar» (inciso2 no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). O Dicionário Houaiss (1.ª edição, 2001) também define o termo, juntando-lhe exemplos (sublinhado nosso): «diz-se de ou frase ou locução que se intercala entre dois constituintes de uma oração, interrompendo-a para dar informação acessória, como p. ex.: "o advogado, disse ele, estará aqui em meia hora"; "o meu primo, aquele moreno, é lindo"». A pergunta refere-se ao aproveitamento literário deste tipo de estrutura.