A forma “heteronimismo” não se encontra registada nos dicionários gerais de língua que consultei (Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, e o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Não é o caso da unidade lexical heteronímia, que está dicionarizada. O substantivo heteronímia pode significar qualidade ou estudo de heterónimo. Este substantivo deriva do grego: ‘heteros’ (= «diferente») e ‘ónomos’ (= «nome»). Designa o fenómeno de utilização de «diferentes denominações» no âmbito da produção literária de um mesmo escritor, dentro de um princípio de fragmentação psicológica em vários eus-autores com desdobramento de personalidade. Um caso típico de heteronímia na literatura de língua portuguesa é o escritor Fernando Pessoa. A forma “heteronimismo” surge justamente na expressão «origem orgânica do meu heteronimismo», quando Pessoa se refere à heteronímia ou criação de vários “eus” presentes na sua escrita (ver Carta a Adolfo Casais Monteiro, in Fernando Pessoa, 1993. Textos de Crítica e de Intervenção, Lisboa: Edições Ática, pág. 205). O substantivo heteronímia pode ainda apresentar diversas acepções. Uma delas refere-se à relação existente entre unidades lexicais que apresentam categorias gramaticais distintas através de radicais diferentes mas cujo conjunto forma uma estrutura semântica. A heteronímia pode verificar-se na oposição de género para alguns substantivos (cf. bode e cabra ou cavalo e égua), na caracterização de caso para os pronomes pessoais (cf. eu, me, mim), na caracterização de tempo-modo (cf. formas do verbo ir: vou, fui, irei), entre outras. O processo de heteronímia está também presente em palavras cujo sufixo lexical tem uma distribuição limitada a uma aplicação gramatical (cf. –triz é sufixo exclusivamente feminino – imperatriz – e –dor é sufixo exclusivamente masculino – imperador).