«Há que fazer ajustes»
«Há que se fazer ajustes de curto prazo», ou «Há que se fazerem ajustes de curto prazo»? Por quê?
Obrigado.
«Há que se fazer ajustes de curto prazo», ou «Há que se fazerem ajustes de curto prazo»? Por quê?
Obrigado.
Inclinamo-nos para a primeira frase: «Há que fazer de curto prazo» (sem a partícula se).
Na opinião de Sá Nogueira e outros gramáticos normativistas, a construção haver que é considerada uma intrusão do castelhano (cf. Rodrigo de Sá Nogueira, Dicionários de Erros e Problemas de Linguagem, s. v. há que, Lisboa, Clássica Editora, 1989). Assim, o verbo haver seria seguido da partícula que e do infinitivo do verbo que se pretende utilizar. Os estudiosos suprarreferidos admitem, no entanto, a expressão na negativa «não há que...», conforme está documentado num comentário do Dicionário Houaiss (s. v. haver) sobre esta construção: «[...] outro uso do v[erbo] haver em combinação com a partícula que ocorre em orações negativas do tipo não há que duvidar do que disseram; não há que se conformar com o que aconteceu; não havia que surpreender-se, nas quais a oração substantiva objetiva (obj[eto] dir[eto] de haver) é integrada pela conj[unção] que (Epifânio Dias considera que conj[unção] causal, enquanto alguns gramáticos preferem considerar que há elipse de um substantivo – ou, mais exatamente, de um substantivo + preposição – o que faz do que um pron[ome] relativo: não havia [razão por] que surpreender-se; não há [coisa de] que duvidar) [...].»
Observe-se, mesmo assim, que «há que» é atualmente usado em português sem que haja a noção de que se trate de castelhanismo. Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, p. 232), refere-se a esta construção como uso que se verifica «mais modernamente», sem qualquer comentário condenatório. Apesar de nos inclinarmos para a primeira frase supracitada, contudo, a expressão «há que fazerem ajustes de curto prazo» (também sem a partícula se) será pertinente, do ponto de vista da sintaxe, pois respeita a estrutura há que seguida de infinitivo (neste caso infinitivo pessoal). No concernente à sonoridade, esta expressão, porém, parece-nos mais desagradável.