Na maior parte dos casos, a concordância do verbo ser faz-se com o seu sujeito, como é aliás a situação dos restantes verbos. Mas este verbo tem a particularidade de, por vezes, a concordância ser com o predicativo do sujeito e não com o sujeito. Esta característica é notada por algumas gramáticas. Veja-se a título de exemplo a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, que apresenta várias circunstâncias em que tal é possível, que passo a citar (consulte-se a Gramática para os exemplos):
– «Nas orações começadas pelos pronomes interrogativos substantivos que? e quem?»;
– «Quando o sujeito do verbo ser é um dos pronomes isto, isso, aquilo, tudo ou o (= aquilo) e o predicativo vem expresso por um substantivo no plural»;
– «Quando o sujeito é uma expressão de sentido coletivo como "o resto", "o mais"»;
– «Nas orações impessoais».
Penso que o caso apresentado é algo parecido com o mencionado no terceiro ponto, embora não seja exactamente igual, como se pode ver pelo facto de os exemplos que os autores apresentam serem agramaticais com o verbo no singular, ao contrário da frase da consulente. (Os exemplos são «O resto são atributos sem importância.», «O mais são casas esparsas.»). O facto de uma gramática não contemplar algo também não significa, de todo, que esse algo seja incorreto.
É frequente acontecer que um sintagma nominal tenha como núcleo um nome que não é realizado foneticamente, mas cuja presença se pode reconstruir a partir do significado do todo ou do contexto em que é proferido. Assim, uma vez que a frase «Uma dúzia são doze unidades/coisas/etc.» é possível, a frase «Uma dúzia são doze» também o será. Pelo menos, quando se subentende um substantivo a seguir ao numeral «doze».