Para analisar a frase em apreço importa ter em conta a existência de diversos registos, desde o formal, mais associado à norma-padrão, às mais diversas ocorrências mais ou menos informais, em contextos específicos.
Num registo formal, sobretudo se for escrito, dificilmente se poderá considerar que «Os livros fazem percebermos a nossa cultura.» seja adequado à situação, sendo claramente preferível a sugestão que apresenta: «Os livros fazem-nos perceber a nossa cultura».
Num contexto menos formal, a frase poderá ser considerada adequada à situação.
Se tivermos em conta alguns aspetos da regência do verbo fazer, poderemos verificar que ele pode ter como complemento uma frase finita ou infinita (os exemplos apresentados são retirados do Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, da Texto Editores:
(1) - A confiança depositada neles faz os rapazes serem mais responsáveis.
(2) - Esta vitória faz com que a equipa passe para o primeiro lugar.
Em (1) o verbo fazer completa-se com um complemento direto e em (2) com um complemento oblíquo.
A frase (2), com o sentido próximo de «atingir um objetivo» aproxima-se da mensagem veiculada pela frase em apreço. Por outro lado, o sentido desta mesma frase, sem grandes alterações, pode ser veiculado pela seguinte hipótese:
(2.1) Esta vitória faz a equipa passar para o primeiro lugar.
Em (2.1), por ser uma terceira pessoa do singular, o verbo passar pode ser interpretado como infinitivo quer pessoal, quer impessoal. Porém, se alterarmos a pessoa verbal, verificamos que é mais provável tratar-se, como no exemplo em apreço, de um infinitivo pessoal.
(2.2) Esta vitória faz as equipas passarem para o primeiro lugar.
Concentrando-nos no exemplo (2.2) e comparando-o com a frase em apreço (numerada com (3), que analogias podemos encontrar?
(3) Os livros fazem percebermos a nossa cultura.
Para melhor explicitar no raciocínio criemos hipóteses como fizemos em (2)
(3.1) Os livros fazem com que percebamos a nossa cultura.
Em (3.1) o verbo fazer completa-se com um complemento oblíquo constituído por uma frase que não tem o sujeito expresso por ser facilmente recuperado «nós». E se colocarmos o sujeito?
(3.2) Os livros fazem com que nós percebamos a nossa cultura.
E se colocarmos o sujeito na frase (3), que repetimos como (3.3):
(3.3) Os livros fazem nós percebermos a nossa cultura.
Comparando (3) com (3.3) diríamos que o que falta em (3) é a explicitação do sujeito. E essa explicitação, no contexto desta frase, parece ser relevante para a sua adequação e um registo formal.
Vale a pena salientar que o sentido das diversas frases se aproxima, para não dizermos que é igual. A segunda hipótese do consulente, que repetimos como (3.4) introduz, parece-nos, uma alteração estrutural na construção do verbo, que passa a ser transitivo direto e indireto, sendo «nos» o complemento indireto.
(3.4) Os livros fazem-nos perceber a nossa cultura.
Com o exposto procurou-se ilustrar o potencial motivo de produzir uma frase como (3), com recurso ao sujeito nulo que, todavia, dificulta a boa receção da frase, conduzindo à preferência pelo exemplo (3.4), no qual se verifica uma alteração estrutural, mas correta, do verbo fazer.