O banco de sentar e o banco da actividade financeira parecem ter étimos muito próximos, de tal maneira, que acabam por se confundir num étimo mais recuado ainda. O banco-«assento», tem origem no frâncico, língua germânica donde evoluiu o neerlandês e que influenciou profundamente o romance do Norte da antiga Gália, donde proviria, mais tarde, entre vários dialectos, o que deu origem ao francês. Sobre o radical banc-, o Dicionário Houaiss indica que se trata de:
«antepositivo, do frânc[ico] *bank, "banco fixado à parede ao longo de uma sala ou de um quarto", pelo latim vulgar; observe-se que, com a ac[e]p[ção] de "assento", banco é das orig[ens] do vern[áculo], enquanto, com as de "acidente geográfico" e "estabelecimento bancário", se documenta já no sXV.»
A nota etimológica relativa à entrada banco é mais pormenorizada sobre a história das várias acepções de banco:
«frânc[ico] *bank, "banco fixado à parede ao longo de uma sala ou de um quarto"; ac[e]p[ção] "estabelecimento bancário" e "acidente geográfico" provêm do it[aliano] banca (1340), que, segundo Corominas, foi inicialmente empregado com o sentido de "tenda para vender mercadorias" [...] f[ormas] hist[óricas] sXI bancos "assento", 1446 bamco "estabelecimento bancário", sXV banco "acidente geográfico"»
O Dicionário Houaiss pressupõe, portanto, que a relação entre banco-«assento» e banco-«entidade bancária» é uma questão de polissemia. No entanto, é provável que a forma banco, «entidade bancária», seja historicamente um homónimo de banco, «assento». Nesta perspectiva, o banco da actividade financeira provém do italiano banca, também de origem germânica, não por via do frâncico mas mediante o lombardo, língua germânica transplantada para o Norte da Itália no século V d. C. Com efeito, lê-se o seguinte no Dizionario Etimologico (2003) da Ruscono Libri:
«[banca] do lombardo bank (= banco). Na origem, lugar ou bancada onde se fazia o pagamento dos soldados; depois lugar onde se cambiava o dinheiro (uma bancada ou mesa sobre a qual se dispunha o dinheiro.»1
Parece-me, pois, plausível que a relação de banco-«assento» e banco-«entidade bancária» se deve encarar diacronicamente mais como homonímia do que polissemia entre dois itens lexicais distintos que apresentavam um mesmo radical germânico (eram cognatos), transmitido por diferentes línguas germânicas e românicas.2 Note-se que banco-«assento e banco-«entidade bancária» não têm, em francês, a mesma forma, o que testemunha a sua diferente etimologia: banc («assento») e banque («entidade bancária»).
1 Tradução livre do seguinte original em italiano: «[banca] dal langobardo bank (= panca). In origine luogo o panca in cui si dava la paga ai soldati; poi luogo in cui si cambiav il denaro (una panca o tavola su cui si diponeva il denaro) [...].»
2 A não ser que se considere que entre os dois itens com a forma banco há, no fundo, a mesma origem etimológica: um radical *bank- do protogermânico ocidental, do qual depois se desenvolveram o frâncico e o lombardo. Nesse caso, voltaríamos a considerar o contraste entre banco-«assento» e banco-«entidade bancária» como resultado da polissemia, numa perspectiva histórica.