DÚVIDAS

Elle, delle e ele em verbos impessoais

No trecho abaixo, pode-se dizer que "elle" e "delle" atuam como pronome relativo, pois se referem a "Projecto de Constituição"? «Nós quanto antes jurassemos e fizessemos jurar o Projecto de Constituição, [...] mostrando o grande desejo, que tinham, de que elle se observasse já como Constituição do Imperio [...] e delle esperarem a sua individual, e geral felicidade Politica.»

Fonte: Constituição Política do Império do Brazil de 25 de março de de 1824.

Minha maior dúvida, contudo, não é essa e, sim, das relações históricas de utilização de tais pronomes. Certa vez, uma professora afirmou que em português arcaico "elle" era utilizado em orações sem sujeitos, tais como: chove, faz frio. Assim, segundo ela, eram utilizadas construções sintáticas como: «Elle Chove»; «Elle faz frio». Neste caso, "elle" referir-se-ia a um ser abstrato da natureza, algo metafísico, de cuja existência não se tem certeza. Isso procede? Nunca achei nenhuma referência que confirmasse tal alegação.

De qualquer maneira, agradeço a atenção.

Resposta

 Elle, delle, como relativos

     Nas frases sobre o Projeto da Constituição, estes pronomes são efetivamente equivalentes a: o qual, do qual. Mas em Portugal são construções arcaicas. Notar que a grafia ll nestas palavras caiu em Portugal desde a Reforma de 1911. Nos vocabulários brasileiros também há muito que foi abandonada.

Ele em verbos impessoais

     A frase «*ele chove», no sentido real, penso que aparece como corruptela gramatical popular. De facto, é um contrassenso grafar com sujeito um verbo que gramaticalmente não o tem. Estão neste caso os verbos climáticos (ex.: chover, trovejar, nevar).  

    Do ponto de vista estilístico, porém, posso aceitar o verbo impessoal com sujeito, se a utilização for figurada (ex.: «ele choveu-lhe pauladas»  muitas, sucessivas; «ele trovejou impropérios»  aos berros, iracundo). Como se observa, a língua reserva-nos virtualidades que vão além das regras. Se feita com discernimento, uma fuga ponderada das “margens” pode também dar uma expressividade particular à fluência do “rio”. 

    Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa