O uso de porque e por que continua a suscitar dúvidas entre os falantes, pelo que tentarei que a minha resposta seja tão clara quanto possível.
Uma nota introdutória: ambas as expressões ocorrem em interrogativas.
PORQUE
1. Advérbio interrogativo
Introduz uma frase interrogativa e ocorre sempre antes de um verbo:
(1) «Porque faltaste à aula?»
(2) «Porque é que não intervieste na reunião?»
2. Conjunção causal ou explicativa
Ocorre numa frase declarativa, introduzindo sempre uma oração subordinada (ou coordenada). Constitui quase sempre a resposta à pergunta introduzida pelo porque advérbio interrogativo:
(3) «Faltei à aula, porque estive doente» [causal, resposta à pergunta (1)].
(4) «Não intervim, porque não tinha nada para dizer» [causal, resposta à pergunta (2)].
(5) «A Joana deve estar triste, porque está a chorar» (explicativa).
POR QUE
1. Preposição (por) + determinante interrogativo (que)
Introduz uma frase interrogativa e ocorre sempre antes de um nome. É passível de ser substituída pela expressão por qual:
(6) «Por que ponte vieste hoje?»
(7) «Por que preço compraste esse dicionário?»
(8) «Por que motivo faltaste à aula?»
2. Preposição (por) + pronome relativo (que)
Ocorre numa frase declarativa, a seguir a um nome e podemos substituí-la por pelo(s)/pela(s) qual(is):
(9) «Todas as dificuldades por que passamos ajudam-nos a crescer.»
(10) «Estive doente. Esse é o motivo por que faltei à aula.
Nota 1: Muitos falantes julgam que porque não ocorre em perguntas, mas apenas em respostas. É completamente falso. Porque existe enquanto interrogativo, à semelhança de outros advérbios interrogativos: como, onde, quando.
Nota 2: A diversidade entre português europeu (PE) e português Brasil (PB) reside unicamente em contexto interrogativo: escreve-se porque em PE, e por que em PB.