DÚVIDAS

Ditongo éi

Escrevi-vos há pouco tempo sobre o plural das palavras oxítonas terminadas em "el", e porque se escreve com "éis". A vossa resposta foi atenciosa e detalhada, mas infelizmente não me esclareceu por completo. Aquilo que perguntava é por que razão se coloca acento agudo nestas palavras, visto que este não me parecia necessário. Segundo afirmaram, "As normas portuguesa e brasileira exigem o acento nas palavras oxítonas (agudas) terminadas com som aberto /éi/ (…) A justificação é a frequência da terminação de som /êis/ nas flexões verbais (ex.: ameis, amareis, fazeis, fareis, etc.). Isto levaria, por exemplo, o falante a pronunciar /êis/ em papeis, sem acento (como flexão verbal do verbo papar), em vez do plural de papel; que, por isso se deve escrever papéis." Mas é precisamente isto que me faz confusão. Não creio ter alguma vez ouvido um sotaque de Portugal, qualquer que ele fosse, que apresentasse mais de uma forma de ler o ditongo "ei" quando tónico. No Brasil, sim, há duas formas de o ler; o "e" pode ser aberto (como em idéia) ou fechado (como em meia). Mas sempre me pareceu que em Portugal o "ei" tónico era lido de uma única forma em cada sotaque. (Não me refiro, naturalmente, às variações regionais; algumas pessoas dizem "êi", outras "âi", outras possivelmente "éi". No entanto, qualquer que seja a sua forma de pronunciar o ditongo, é apenas uma, e não duas como no Brasil.) Por isso não entendo a razão desta necessidade de distinguir, por exemplo, o substantivo "papéis" do verbo "papeis" (de papar). Não são palavras homófonas em Portugal? Será que no início do século XX, quando se fez o primeiro acordo ortográfico, existia em Portugal um ditongo "ei" com "e" aberto e outro com "e" fechado, como ainda hoje sucede no Brasil? E nesse caso porquê só fazer a distinção nos plurais dos substantivos terminados em "el", e não noutros casos, como fazem os brasileiros?

Resposta

Concordo que ameis, amareis, fazeis, fareis também possam ser pronunciadas ¦âis¦. Mas discordo da sua afirmação de que não exista o ditongo ¦éi¦ em Portugal. Eu pronuncio ¦idéia¦ e não ¦idêia¦ ou ¦idâia¦. Igualmente digo ¦papéis¦ e não ¦papêis¦ ou ¦papâis¦. Aliás, já os obreiros da Reforma de 1911 distinguiam bem na grafia a pronúncia de reis (ex.: `os reis da dinastia´) de réis (ex.: `dez réis de gente´); como bateis, forma verbal, de batéis, substantivo. Por isso, impuseram os acentos em (sic): «Os ditongos, sempre tónicos/tônicos éi, éu, ói com e, o abertos …..». Para terminar, dada a sua insistência em ignorar o ditongo ¦éi¦ em Portugal, transcrevo também o texto da base XIII da norma portuguesa em vigor (sic): «Os ditongos orais ….. distribuem-se ….. ai, ei, éi (apenas tónico/tônico), éi (apenas átono), …..». E a norma dá como exemplos do ditongo ¦éi¦: farnéis e farneizinhos (repare que neste último caso há o ditongo ¦éi¦, mesmo sem o acento, como em ideia). As normas portuguesas estabeleceram que não existia graficamente o acento grave em farneizinhos e o acento agudo em ideia, mas não suprimiram o ditongo ¦éi¦. Note que o novo acordo ortográfico (base VIII) continua a mencionar o ditongo ¦éi¦, dando como exemplos (única grafia): anéis, batéis, fiéis, papéis e, por outro lado, uniformiza ideia sem acento (base IX).

Ao seu dispor,

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