Por dissimilação entende-se «qualquer processo [...] em que um segmento fonético perde um ou mais traços fonéticos que tinha em comum com um segmento vizinho, diferenciando-se deste» (in Dicionário de Termos Linguísticos, vol. I, Maria Helena Mira Mateus et alii).
Pode obter mais informações sobre este assunto no dicionário supramencionado, na Gramática da Língua Portuguesa (Maria Helena Mira Mateus et alii, também) ou no manual da Universidade Aberta, Fonética, Fonologia e Morfologia do Português (Maria Helena Mira Mateus).
Quanto a exemplos, e já que fala na variante do Norte, temos os casos de ‘bau’ por ‘vou’, de ‘mauros’ por ‘mouros’.
Para a ajudar a perceber melhor, apresento-lhe o que se chama o ‘Triângulo Acústico das Vogais’ (que encontrará, em triângulo ou em quadro, nas referências que lhe dei) e que corresponde à representação esquemática das vogais fonéticas (orais) do Português Europeu. A negrito e sublinhado está a vogal ortográfica à qual corresponde o som em itálico.
Não recuadas Recuadas
Altas i (tino) e átono/fechado (telefone) u (muro)
Médias e (medo) a átono/fechado (maçã) o (ovo)
Baixas e aberto (vela)
a aberto (mala) o aberto (mola)
Não arredondadas Arredondadas
Ora, a dissimilação acontece cada vez que um segmento muda um traço (deixa de ser recuada para ser não recuada, deixa de ser alta e passa a ser média, etc) de modo a tornar-se mais distinta de outra que lhe está próxima. Tal não acontece, porém, em Lisboa-Lesboa. Se o objectivo do i (de Lis-) é afastar-se do o (de –boa), não vai transformar-se em algo ainda mais próximo dele (e átono, em Les-), como acontece em ‘femenino’ ou em ‘menistro’ onde se procura distanciar dois ‘is’.
O que é possível aceitar é a dissimilação do i de s (em Lis-), uma vez que este último som, como o i, é palatal (produzido com aproximação da língua ao palato), provocando a alteração de i em e átono. Isto não acontece na palavra ‘dissimilação’ (que é sempre, mesmo em Lisboa, ‘dissimilação’) ou na palavra ‘diferente’ (o som que está ao lado do i em Lisboa não é o mesmo que está ao lado do i em ‘dissimilação’ ou ‘diferente’). Assim, há que diferenciar o que acontece em ‘dissimilação’ (onde não há dissimilação) daquilo que acontece em ‘dstraído’ ou ‘Lsboa’ (onde há dissimilação do i de s) e ainda daquilo que acontece em ‘femenino’ (onde há dissimilação dos dois is).
Gostava ainda de chamar a atenção para um aspecto: não há formas correctas de pronunciar seja o que for. No Português de Portugal, há um padrão (aquele que é falado na região de Lisboa) e que é de toda a utilidade para quem ensina, por exemplo. Assim para um falante de Lisboa ‘feminino’ é ‘femenino’ e ‘ministro’ é ‘menistro’. Para um falante do Norte ‘feminino’ é ‘feminino’ e ‘ministro’ é ‘ministro’. Quem diz bem? Quem diz melhor? Não há resposta. O máximo que se pode dizer é que um falante do Norte pronuncia estas palavras mais de acordo com a ortografia e nada mais.