O termo em apreço figura com a forma descanulação no Dicionário Médico de L. Manuila et al., obra adaptada para português por João Alves Falcato (Lisboa, Climepsi Editores, 2004). No entanto, o uso talvez dê vantagem à forma decanulação, conforme parece indicar um pesquisa preliminar feita na Internet com o auxílio do Google1: em páginas portuguesas (domínio .pt), descanulação obtém 41 resultados, enquanto decanulação, 42; em páginas brasileiras (domínio .br), decanulação alcança 1050 resultados, e descanulação, apenas 58. Ou seja, se nas páginas portuguesas as duas formas estão praticamente empatadas, as brasileiras privilegiam claramente a forma decanulação. Fundado na forma que o termo assume em Manuila et al., eu diria que descanulação tem alguma preferência em Portugal, ainda que de modo hesitante; no Brasil, o uso impõe decanulação2. Trata-se de mais um aspecto que aguarda a definição de critérios por parte de especialistas da área, assessorados por linguistas que estudem terminologias.
1 Do ponto de vista metodológico, uma pesquisa feita pelo Google não constitui uma fonte de dados fiáveis, dada a alta probabilidade de distorções e repetições do material linguístico. No entanto, a consulta de três corpora elaborados segundo critérios científicos (Corpus do Português de Mark Davies e Michael J. Ferreira, e recursos da Linguateca, que abrangem corpora de textos publicados no Brasil e em Portugal) não facultou nenhuma ocorrência do termo em questão — o que se compreende, dado esses corpora incluírem sobretudo textos literários e da imprensa generalista, nos quais será muito baixa a probabilidade de ocorrência de termos especializados. Deste modo, a consulta Google aqui mencionada tem apenas um valor indicativo preliminar que pode, ou não, vir a ser confirmado numa pesquisa mais rigorosa.
2 Existem oscilações e contrastes regionais quanto ao uso dos prefixos de- e des-, como assinala o Dicionário Houaiss (s. v. de-): «[de-] por sua função, confunde-se com o pref[ixo] des-, embora seja um cultismo, em face do vulgarismo des-; em conseqüência, na neologia mais recente, ocorrem voc[ábulos] em Portugal preferentemente em de- ou des-, em contraste com formas brasileiras em des- ou de-, correspondentemente (descodificar/decodificar, descolar/decolar).» Não é de ignorar, no entanto, em relação à frequência significativa do prefixo de-, a pressão exercida por termos especializados de línguas com projeção científica internacional como o francês ou o inglês, onde se usam as formas prefixais dé- (décanulation) e de- (decanulation) também originárias do cultismo latino de- (cf. s.v. descanulação em Manuila et al.).